Sempre que escrevo um poema, um poeta de verdade se remexe no túmulo, por dor ou por pena

domingo, 16 de janeiro de 2011

• ando meio desligado

O amor é engraçado. Rabiscou isso em um dos papéis que se encontravam perto do bloco de anotações. Fazia 5 minutos que estava ali parada, na inútil espera de palavras bem colocadas para um texto. E pensou nos amores e desamores da vida e em todas as memórias – que agora sim não passavam de memórias – inúteis, que atormentaram por certo tempo os seus pensamentos. A caneta na mão, os pensamentos soltos. E na rádio tocava, morro de saudade a culpa é sua, todo atalho finda em seu sorriso nu. Não quero te prender mas não posso te perder, ela me deixou desiludido eu já não sei se eu vou se eu fico. Esse é um dilema que nem o cinema pode resolver, uoou ie iê. E o papel, e a caneta, e os pensamentos soltos. Amores vêm e vão, escreveu. Como num filme imagens passaram em sua cabeça, e pensou nos desamores que a vida lhe reservou. Em como num dia dá-se a vida por alguém e noutro pede a todos os santos para esquecê-lo. Nas inúmeras promessas não cumpridas. Deveriam extinguir dos rituais de casamento todas aquelas promessas, e deveria ser possível casar na igreja novamente. Ficava sempre com isso na cabeça, Deus só abençoa uma vez. Mas se abençoa não deveria acabar. O que Deus uniu o homem não separa. Separa sim, ou então Deus quase nunca uniu alguém. Bem disse quem escreveu que seja infinito enquanto dure. É, só enquanto durar. Bem disse também quem escreveu que é melhor sofrer junto que viver feliz sozinho. Era isso ou o contrário. Nunca concordou totalmente com a afirmativa. Mas você pode ter certeza de que seu telefone irá tocar em sua nova casa que abriga agora a trilha incluída nessa minha conversão. E mesmo talvez não houvesse conversão. E em segundo lugar mesmo talvez o telefone não fosse tocar. E nem houvesse segundo sol. Foi, pois, assim que descobriu que o amor sempre reaparece. Surpreendeu-se refletindo que teria que conviver com isso continuamente. Com brusca rigidez tentou parar de pensar e embolou o papel que a pouco rabiscara algumas poucas palavras. Mas a caneta continuou na mão e os pensamentos continuaram soltos. Para essa doença não há cura, afinal .


♪ Ando meio desligado
Eu nem sinto
Meus pés no chão
Olho, e não vejo nada

Eu só quero
Que você me queira...