Sempre que escrevo um poema, um poeta de verdade se remexe no túmulo, por dor ou por pena

sábado, 29 de dezembro de 2012

na corda bamba de sombrinha!


A esperança dança na corda bamba de sombrinha! E foi no passo dessa linha que decidi fazer essa postagem... Promessas de ano novo são sempre legais de se fazer, mesmo que não se cumpra uma porrada delas. Gente, a vida taí, e se a gente nem finge que vai fazer alguma coisa, há de se fazer o quê? Não tô querendo muita coisa pro ano que vem não! Só uma vida dessas de filme, o dedo em v, cabelo ao vento, amor e flor, quero cartaz (loucura, chiclete e som). Teve coisa boa no ano que passou, teve sim, mas também muita gente que precisei deixar pra trás! Sem rancor, Brow, você continua sendo o cara que me apresentou uma pancada de coisas que vou levar pra vida, só temos uma foto, e se eu te esquecer é porque não é importante mais, não era esse o lema? Mas você foi importante, foi o meu amor de uma longa estação! Hoje é só uma lembrança que morre na virada do ano, ou talvez não. Então nesse ano, só tô pedindo mais um pouco de amizades que mesmo que termine em menos de um ano, deixe um pouquinho em mim e eu um pouquinho nelas. Borges certa vez disse, que a amizade, ao contrário do amor, não precisa de ligar, ficar perto, e nem de ciúmes, amigo não precisa de cobrança e depois de muito tempo a gente liga e sente o mesmo carinho igual. Só hoje entendi essas coisas. Por isso só peço que os meus novos amigos e os meus velhos amigos, e mesmo os que não podem ou não querem mais ser meus amigos, pensem que daqui um tempão a gente possa ter o mesmo carinho igual. Pra viver nessa corda bamba e de sombrinha! Pra ver que pode ser infinito enquanto durar, como compôs Vinicius.

e em cada passo dessa linha pode se machucar.
Azar!

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

pra me manter acordado


Passou do dia, da hora, do minuto. Passou sem que devesse passar. Nesses momentos vagos sobram sempre os pensamentos lamuriosos. Uma exaustão do que estava jurado de esquecimento. Passou sem que devesse passar. A lágrima escondida, a vontade reprimida. Perceptível a minha não reação para que a reação se tenha, perceptível e ninguém percebe. Os livros na estante vão pegando poeira, empoeirando também se vai o meu bom senso. Há um pouco de preguiça aqui. Paro nos cantos de corações apertados, onde andará o amor?
Nesse estranho desejo de querer, qualquer coisa. Nesse desejo de ser querido, por qualquer um. Mal imaginam o esforço para ficar por aqui. Um cotidiano que se tornou enfadonho. Paro nos cantos de corações apertados, pra que servem os amigos se não os tenho? Preciso parar de escolher as pessoas, preciso parar de enjoar delas. E estamos nos ilhando. Vazio.
Descrente de algo que possa repelir o caos, mas ainda esperando a sua resposta.
Passou sem que devesse passar.
Sinto saudades, não é de você, mas ainda não sei do que. Continuo com jus as minhas juras.


“Eu brindo meu encontro com café pra me manter acordado”
victor moraes

sábado, 13 de outubro de 2012


" Eu trago a dança que me inspirou o café sem açúcar e tal
Analise o fundo da xícara, a esperança é igual.
Eu confesso só me resta a vida inteira.

Só me resta vida em mi maior e lá "

tiê.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

feito tatuagem

Fragmentos, pedaços por aí. Simulações, atos em si. Inscrições, percepções, avessos. Quero ficar no teu corpo feito tatuagem. Artifício, mutação, metamorfose. Percurso iniciativo, um vislumbre do meu desejo. Ruínas, restos, sobras. Quero pesar feito cruz nas tuas costas. Ao som da melodia que você escolher. Quero brincar no teu corpo feito bailarina. Interditos, intento, Invento. Só pra te ter aqui.

domingo, 29 de julho de 2012

ocaso

it needs some new songs

Há em mim qualquer coisa dessas sem aclaração. Há uma necessidade de deixar-se namorar e seguir com isso até o momento de poder enjoar e mudar o foco. Há em mim uma necessidade de sentir medo pelo puro prazer de poder correr. Não sei dizer como surge às vezes e como crio o desejo. Certa de que nessas horas me difiro. Imersa nessa tenra ideia de aspiração. Descartando quando não mais me serve. Vivendo ao bel-prazer de ser livre.
Admirando como a única coisa que resta e desejando porque tantas outras vezes consegui. pr’eu ser tema desse teu compor.
Porque eu quero cansar de te ver passar, cansar de te ouvir, cansar de ler o que você escreve, cansar de ver você.

Abro uma garrafa de cerveja, acendo um cigarro. A vida voltou a ser.

Só vou se for com ele
Eu tenho medo de avião
Se eu fico longe dele
Eu perco o norte e o chão
Só quero saber dele
E nada mais importa.

o café quente

O café quente. Um não entender de tanto querer, assim às claras. Não deu pra evitar, fugir, mentir, esconder-se. Quem dera me livrar pra sempre de mim mesmo é só me reencontrar lá no teu doce abismo. Involuntariamente passei por você, voluntariamente decidi passear de volta. Preenche o vazio da falta de sono com algumas sérias palavras. Zera-me e nada mais te peço. Arranca de mim esse medo mortal de viver. Escrevo e imagino; a mão segurando a caneta e a vontade apertando o peito. Y el que quiera creer que crea. Y el que no, su razón tendrá. Y que la escuche quien la quiera escuchar. Doce ilusão e bendita loucura. Não posso mais me esquecer do momento em que me encontrei em ti. Seu firme aperto de mão, seu molhado beijo que nem sei. Esses são dias de suspiros tensos.

“Lavrador ou semideus. Queima de amor, seja como for
Tema de Amor

morre a insensatez

Hoje,
29 de julho de 2012,
eis que morre o Insensatez
e nasce
Cavar flores sem lhe ver!

Outrora cantou Belzinho:

Nunca mais você saiu à rua em grupo reunido
O dedo em V, cabelo ao vento, amor e flor, quero cartaz

No presente a mente, o corpo é diferente
E o passado é uma roupa que não nos serve mais

segunda-feira, 16 de julho de 2012

estátua

" MALFADADO E MISTERIOSO HOMEM! Desnorteado no esplendor de sua própria fantasia e tombado nas chamas de tua própria juventude! De novo, na imaginação eu te contemplo! Mais uma vez teu vulto se ergueu diante de mim... Não, não como te encontras, no frio vale, na sombra!, mas como deverias estar, dissipando uma vida de sublime meditação naquela cidade de sombrias visões, tua própria Veneza, que é um Eliseu do mar querido das estrelas, onde as amplas janelas dos palácios paladinos contemplam, com profunda e amarga reflexão, os segredos de suas águas silenciosas "

o visionário
edgar allan poe

Parte superior do formulário

Parte inferior do formulário

“A Estátua recuperou a vida!” Não, não recuperou.

Jaz sobre a cama o corpo do que outrora foi um homem. Pergunta-se ao deus do Acaso em que momento mesmo deve-se sucumbir ao desejo, mas este nada responde e talvez o deus do Caos aqui nos caiba com melhor resposta. Nenhum desses deuses, entretanto arrisca-se a fazer qualquer contato com um reles mortal e a vida aqui no mundo segue adiante. Segue?!
Quando, um instante após o derradeiro desfecho, segue-se aquele mesmo caminhar a passos curtos e a mesma velha e inútil existência. Aquela lúgubre existência a que tantos bons homens cedem. Aquela melancólica e mórbida vida. E com bons sentimentos se desfaz o mundo.
Ouço três batidas na porta, abro e não vejo ninguém, e não esperaria encontrar alguém do outro lado da porta de madeira de cor marrom como os caixões. Com profunda atitude de repúdio fecha-se a janela, e com singularíssimas atitudes de pequenas culpas os homens destroem o mundo.
Assim, sem pensar nos prazeres da carne eleva-se a vida a um patamar que eu jamais reclamarei o posto.
Achei-me remexendo alguns livros de horror, de mistério e morte, como alguém que não tem mais nada a esperar. Como alguém que finalmente sucumbiu à doença que atingiu seu grande amor. Beatriz no espelho, Beatriz em suas inúmeras faces, e tudo acaba quando sobre todos os pontos do Aleph o que resta é apenas Beatriz Viterbo.
Perder a fé nas coisas é algo que atinge a todos, afinal.

domingo, 15 de julho de 2012

Somebody That I Used To Know

Não foi pela forma como você pronunciou cada palavra, nem pelos seus olhos miúdos. Não foi pelo modo como você se vestia, muito menos pelo seu tipo físico. Não foi pela maneira que nos conhecemos porque nem me lembro como nos conhecemos. Não foi pelo modo inflado que você entrava em uma discussão, porque você nunca fazia isso pessoalmente. Não foi nada disso, mas talvez tenha sido isso tudo.

Ergueram cercas ao nosso redor e você, fraco como sempre foi, enredou-se em cada uma delas. Posso ver apenas alguém que sangra, alguém para sempre marcado pelas amarras que um dia o prenderam.

Enquanto a playlist country roda na sua caixa de som, existe vida do outro lado da rua. Enquanto você inventa e reinventa cada tristeza, existe um mundo do lado de fora do seu apartamento. Enquanto você perdeu tempo tentando se mostrar envolto em uma máscara, alguém desceu as escadas do seu apartamento para nunca mais voltar. Enquanto você morre de amor, a pessoa que você tanto ama já se apaixonou por outro alguém.

Você é incapaz de olhar para o lado e ver que algo bom pode acontecer. Incapaz de ser metade dos contos que você lê e metade do homem que te inspira a escrever. Você não carrega a tristeza do mundo, você é a tristeza do mundo.

Você nem precisava ser tão ruim, mas esforça-se para isso.

Você não precisa e nem merece amigos.

Você não amaria meu sorriso, nem meu calor, nem minha solidão, nem minha condição, nem por uma noite e nem pela eternidade, porque você é incapaz de amar.

E eu descobri que minha vida pode ser bem mais que o vislumbre de um garoto triste que passa a maior parte do tempo trancado em um quarto, em um apartamento, e que se debruça sobre a janela na espera inútil em que ninguém vai aparecer. Todos já o esqueceram.

But you treat me like a stranger and that feels so rough
No, you didn't have to stoop so low
Have your friends collect your records and then change your number
I guess that I don't need, that though
Now you're just somebody that I used to know.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

um personagem de dostoiévski jamais será Borges.

“Sou um homem doente... Um homem mau. Um homem desagradável”
Memórias do Subsolo - Fiódor Dostoiévski.

Disseram outrora que não se poderia entender ou prever o que faria o homem do subsolo. Que não se poderia compreender completamente o que seria tal homem. O ser dotado do mais mesquinho sentimento, mas ao mesmo tempo capaz de ser a mais dócil criatura. Um ser talvez, e sobretudo, indefeso.
Faz algum tempo conheci esse personagem dostoievskiano. “Um ser que vem do nada e parte para lugar nenhum. Alguém que aparece de repente, que ninguém sabe de onde veio nem para onde vai. A man out of nowhere”. Diria Nelson Brissac, se aqui me couber a referência.
Um ano, ou menos que isso, foi o suficiente para conhecê-lo, construir e destruir uma das coisas mais bonitas que já me aconteceu.
Um homem do subsolo nunca deixará de sê-lo.
Aqui caberia outro personagem dostoivskiano, aquele eterno marido, um complemento da esposa, mesmo possuindo indiscutivelmente personalidade própria. E, no fim das contas, complementos são sempre vazios e mendigos de atenção.
Resta apenas uma referência a Hawthorne Em meio à aparente confusão de nosso mundo misterioso, as pessoas estão ajustadas a um sistema de modo tão preciso, e os sistemas ajustados uns aos outros, e a um todo, que, ao afastar-se disso por um momento, um homem expõe-se ao risco terrível de perder o seu lugar para sempre. Tal como Wakefield, pode tornar-se,por assim dizer, o Pária do Universo.Um homem do subsolo jamais deixará de sê-lo.

Borges jamais se orgulharia disso.

terça-feira, 26 de junho de 2012

AUSENCIA

"Habré de levantar la vasta vida
que aún ahora es tu espejo:
cada mañana habré de reconstruirla.
Desde que te alejaste,
cuántos lugares se han tornado vanos
y sin sentido, iguales a luces en el día.
Tardes que fueron nicho de tu imagen,
músicas en que siempre me aguardabas,
palabras de aquel tiempo,
yo tendré que quebrarlas con mis manos.
¿En qué hondonada esconderé mi alma
para que no vea tu ausencia
que como un sol terrible, sin ocaso,
brilla definitiva y despiadada?
Tu ausencia me rodea
como la cuerda a la garganta,
el mar al que se hunde."

Jorge Luis Borges

quarta-feira, 6 de junho de 2012

domingo, 3 de junho de 2012

como de costume

Os habitantes
A cidade
A rua
O beco
Um assassinato
Corpo no chão

Lá fora a vida segue,
como de costume.

invisível teia

Invisível, a teia se refaz.
Cobre a casa, os móveis, as vidas.
Desliga a amizade
(algumas são desligáveis)
Retira o amor
Tece o ódio

o monstro

um, dois, três.
O monstro adormecido desperta.
quatro, cinco, seis.
Joga a poeira pro lado.
sete, oito, nove.
Solta fogo pelas ventas.
dez.
Acabou a paciência

sexta-feira, 1 de junho de 2012

lado B

De ontem para hoje nem tudo é normal. Daqui pro futuro falta menos que um suspiro. Eu por aqui vou repintando as paredes e mudando os móveis de lugar. Recortando coisas novas para colar no meu céu. Jogando aquele pincel cinza fora. Já não durmo e apago cigarros sem ver. Comprei outra garrafa de conhaque, outrodia abri uma garrafa de vinho. Alguns ressentimentos ainda perduram. No momento não há muito o que se fazer a respeito, apenas ascendo um novo cigarro. Tem muita vida passando pela janela do meu apartamento. Dia desses jogo tudo fora, pego minha mochila e vou embora pelo mundo. Tenho 20 e poucos anos e muita vida pra ser vista. Entôo algumas velhas canções, boto um folk novo para tocar no meu som. Daqui a pouco jogo tudo pro alto e mudo de vida, de nome, de tom. Qualquer dia desses paro de ouvir MPB e mudo de país. Tenho visto a vida passar pela janela do meu apartamento e sinto que a estou ignorando. Meia dúzia de livros na sacola e uns óculos de grau, tenho visto pouca gente interessante passar por mim. Dia desses comprei um óculos de sol com um poema, ainda não consegui lê-lo. Tem lua aqui e em todo lugar, não dá pra ficar lamentando a vida. Atravessa meu caminho de novo e colore meu mundo de cinza que eu atiro a primeira pedra que encontrar. Hoje eu só preciso de alguém distante, um alguém do outro lado que me arranque um sorriso bobo do rosto e me deixe (re)inventar o tempo. Daqui a pouco jogo tudo pro alto e mudo de vida, de nome, de sexo.

“How many nights of talking in hotel rooms can you take?
How many nights of limping round on pagan holidays?
Oh, elope with me in private and we'll set something ablaze
A trail for the devil to erase”

domingo, 1 de abril de 2012

nenhum milagre

“Conclui que não é infinito o número de possíveis experiências
e que basta uma única ‘repetição’
para demonstrar que o tempo é uma falácia”
O milagre secreto – Borges

O tempo é uma falácia!
Inúmeras vezes vi fatos se repetirem
Diversas noites foram viradas em vão
Contemplei meu corpo que jazia entre as ruínas de Roma
Nenhum milagre me salvará
Não encontrei Deus em nenhuma letra de nenhuma página dos milhares de livros que li
Ele jamais atenderá meu pedido
Tão desafortunado fui eu no dia em que acreditei que o encontraria
Nem em sonho tenho me salvado
Desejo a repetição de todos os outros dias
Coisa ainda mais falaciosa
Deixarei que meu corpo seja entregue e desfaleça
Não quero mais lutar
Que chegue o dia da sua execução

sábado, 24 de março de 2012

se tudo pode acontecer

Ao som de http://www.youtube.com/watch?v=6S4siwNUEc4

Não me pergunte como nem porquê, mas essa noite mais uma vez sonhei com você. Não sei quanto tempo durou e nem mesmo como começo, mas você lá estava. Às vezes assim você surge em mim como uma outra espécie de felicidade, coisa que eu jamais teria se pudesse ter você por perto todo o tempo. Pois para falar a verdade não sei por que naquele derradeiro dia me apaixonei por você. Embora eu soubesse que, uma vez tendo eu te encontrado nada mais poderia evitar em relação àquele profundo sentimento que vez ou outra vem nos visitar. Por vezes raras vi você passar por mim e lembro-me de cada uma delas. Frente ao espelho não mais me encontro durante muito tempo, até que sinto que posso te encontrar novamente. Nas páginas de um livro anotei seu nome para que não mais pudesse esquecê-lo. Desde então me desconheço e apenas me reconheço em ti quando posso ver-te. E todos os momentos anteriores a sua chegada são esquecidos. Nesse momento de silêncio que certamente se fará quando não tenho nada a dizer a você, é que eu me reencontro. Nesses encontros um tanto casuais, nessas tardes de quase a mesma estação...

“Pode alguém aparecer
E acontecer de ser você
Um cometa vir ao chão
Um relâmpago na escuridão
E a gente caminhando
De mão dada
de qualquer maneira

Eu quero que esse momento
Dure a vida inteira”

quinta-feira, 15 de março de 2012

o passado nunca mais

abra-te sésamo, bradou o ladrão de Bagdá!
o passado não vem mais, grito agora às portas do seu palacete!
por não estar colado e imerso em meu tempo posso analisar o passado
como o espelho que apenas nos reflete se mantermos certa distância
meu presente está fraturado, rompido e não me é possível colá-lo.
não posso ver através da luz, restou-me somente a análise do obscuro
como em um poema de Mandel’stam olho para trás com um sorriso insensato,
fraco e cruel posso apenas contemplar minhas pegadas
outrora ao lado delas existiam as suas
elas já se apagaram
o passado não volta mais!

quinta-feira, 8 de março de 2012

o quase demônio da perversidade

“Não existe paixão na natureza que seja tão demoniacamente impaciente como a daquele que hesita à margem de um precipício, meditando sobre se há de saltar ou não. Deter-se, ainda que por um momento, na contemplação desse pensamento, é estar inevitavelmente perdido; porque a reflexão nos ordena afastar-nos sem demora e portanto, exatamente por isso é que não podemos. Se não houver um braço amigo que nos ampare, ou se não fizermos um esforço súbito para nos afastarmos do abismo, saltaremos e seremos destruídos.”
O demônio da perversidade
Edgar Allan Poe

Ante o impulso de se jogar ou não do precipício outros tantos são capazes de perverter o sentimento humano. E nesse caso não há ombro amigo e nem esforço súbito para afastar-se. O demônio da perversidade ora capaz de tantas atrocidades com o outro se torna ainda mais imbatível quando age por um impulso que não teria surgido caso não existisse a situação desencadeada por seu rival.

Tal sentimento ignóbil se a pouco chama-se amor não passa da fraude mais barata, uma falácia em maior grau. Tudo se passa quando um outro o procura, você nesse momento tem todas as cartas na manga e pode ganhar ou perder o jogo, quer dizer, pode fazer com que o outro ganhe ou perca. Nesse momento você, dono da situação, não poderá perder a oportunidade de se mostrar no topo da pirâmide. Começa assim o jogo em que cabe ao outro arrastar-se até que tenha o corpo coberto de sangue. Nesse entremeio todo charme é necessário para que o jogo dure tempo necessário para o segundo passo.

O segundo se trata da parte mais aprazível para o causador do sofrimento. É nesse momento que você finge, inventa, fabula um gostar ao mesmo tempo que pede para o outro ir embora. Este, após mais uma vez se arrastar até o sangue às vezes recebe uma carta ou algumas explicações. Estas explicações falaciosas são importantes, uma vez que, através delas você tem a ressalva para um posterior arrependimento.

Ora, esse arrependimento só acontece quando você percebe que o outro não é tão tolo e imperceptível quanto se pensava. Está aí a importância do terceiro elemento, pois através dele você nota algo que não havia notado anteriormente. Sob esse prisma só há, portanto, uma falácia inscrita em outra; um falsário supremo.

Ademais, com o surgimento do terceiro elemento a narrativa torna-se mais interessante. Nesse momento você, e seu sentimento ignóbil, arquiteta uma trama de retorno. Essa trama é importante porque através dela você atinge o fim esperado, toda perspicácia é preciso. Todo erro do outro pode ser usado nesse momento como o estopim da guerra.

Você deve se agarrar ao mínimo detalhe e deve saber usá-lo no momento certo. Não se pode negar nesse momento que algo realmente tenha acontecido. Mas um sentimento surgido após a percepção do outro seria da mesma forma justo? Se o terceiro elemento não houvesse também criado uma situação de risco teria o outro se entregado ao falsário?

Todas essas perguntas permanecem evidentemente sem resposta, e tantas outras podem também ser feitas. O demônio da perversidade age nesse momento mostrando sua face mais oculta. Tudo dará certo, é claro, os demônios se usam de todas as armas até que um dia o terceiro elemento desapareça, ou, apareça ainda um quarto que pode se envolver tanto em um quanto em outro lado.

Esse não é o caso da natureza demoniacamente impaciente que hesita sem saber se deve ou não pular do precipício, é o caso de outra infinitamente pior, que hesita se deve ou não jogar o outro do precipício e esperar que ele estilhace e se encha novamente de sangue.


11 de outubro de 2011

o misterioso caso de miss...

Meu próprio grito ecoou-me o dia todo no cérebro; até eu ter a certeza de que na esquina de uma rua qualquer eu me encontraria como de costume com ela, dando-me por satisfeita ao vê-la sumir ao longe”
o misterioso caso de miss v.
v. woolf

Andava assim como quem não precisa dizer nada a ninguém porque a beleza fala por si só. Não que essa beleza excluísse qualquer traço de inteligência como costuma acontecer hoje em dia, ao contrário, tornava-se cada vez mais bela quando dizia alguma coisa, qualquer coisa. E dizia muitas coisas, como se houvesse uma espécie de sentido em qualquer fato sem sentido que se atrevia a existir no tempo. Talvez nunca tenha existido em seu rosto qualquer expressão de infelicidade, embora, nos momentos em que lhe atacavam os nervos fosse possível perceber um acentuado levantar de sobrancelha seguido de um leve enrubescimento no rosto. Era uma dessas pessoas que não precisa dizer muita coisa para conquistar alguém.

Não poderíamos dizer que fosse possível ser acometida por uma loucura a qualquer momento. Mas, acontece que esses tempos pra cá acabou por descobrir que a NASA (National Aeronautics and Space Administration) possui satélites de alta definição capazes de identificar qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo. Como todos bem sabemos, esses satélites, podem não só rastrear pessoas, mas também, imediatamente enviar dados para um computador no qual serão armazenadas todas as ações e palavras ditas e desditas.

Qualquer pessoa normal ao saber disso seguiria sua vida como de costume, afinal, o que se pode fazer contra satélites de alta definição controlados por uma agência do governo dos Estados Unidos com uma sigla suspeita que pode muito bem significar qualquer outra coisa? Embora não tenha colocado isso no início de maneira explicita, é importante que vocês saibam que a existência de pessoas belas e inteligentes em nosso mundo é tido como anormal, e uma hora ou outra essa pessoa dá um defeito, como aqueles robôs multifuncionais que às vezes entram em pane.

Destarte, desde o dia que descobriu que está sendo seguida pela NASA deixou de atender telefones, responder e-mails e cumprir com suas obrigações acadêmicas. E, dizem as más línguas, que às vezes faz protestos sem sentido em viadutos recém construídos e inventa caminhos diferentes tentando despistar os satélites. Como se não soubesse que mesmo se mudando para outro planeta continuaria a ser seguida, sabe-se lá por que.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

cinza.

“É um lugar-comum que não há solidão que se compare à de quem se vê sozinho numa multidão”
O misterioso caso de miss V. – Virginia Woolf


Cinéreo seriam todos os dias que se seguiriam após a sua partida. Foi talvez em meados do ano retrasado que sua vida foi inundada de plena esperança e momentos vívidos de felicidade. E mesmo nessa madrugada de profunda melancolia poderia se lembrar de situações que lhe arrancariam do rosto um sorriso bobo. Talvez seja tão-só um dia, em que descompromissadamente decidiu olhar para aquele mesmo corredor que na maior parte do tempo está inundado de pessoas e conversas inúteis. Gostaria de ter todas as lembranças boas que aquela presença imprescindível lhe causava, mas, sabia que com o tempo a memória lhe falharia. Pensou em todas as suas palavras e nas folhas com sua escrita guardadas na esperança que ficassem longe do estrago do tempo. Com o passar dos anos as folhas se tornariam amareladas assim como a ferrugem que corrói os trilhos que a pouco indicavam um caminho. Nada resiste a presença do tempo, da distância, da chuva e da saudade. Os finais felizes somente ocorrem em filmes, e os filmes só são vistos por quem se habilita a colocá-los em algum aparelho de reprodução; sonhos não ocorrem a esmo e quando ocorrem são levados com a dor de uma partida. Decerto nunca houve um tempo em que de fato se arriscaria a dizer que não sofreria com partidas e as longas despedidas. É ignorante e quase ilógico pensar que esse momento não aconteceria, e ainda assim, não consegue evitar aquela dor que dilacera a alma e permanece escondida. Sob certas luzes a esperança se vê esfacelada e a realidade corta como navalha.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

sem aviso

Inútil foi o pensamento de que após o fim as coisas poderiam seguir como sempre foram antes de qualquer começo. Em meio a rebuliços pensou poder calar qualquer grito em que se levantasse a bandeira branca. No entanto, parece mais que certo que, uma hora ou outra as coisas se findarão por completo. Poderia adiantar o momento mandando tudo ao raio que o parta, mas anda fraca e sem esperanças pra se arriscar a perder mais alguém. Poria em palavras mais que desnecessárias todas essas frases tortas e enviaria por correio se pudesse. Escreveria cinco ou seis bilhetes e espalharia pela casa só para se lembrar de esquecer. Mudaria o quarto de lugar e todos os livros da estante e “enganaria mais uma vez o cérebro de que organizar purifica a alma”.

E a própria simplicidade das coisas se perde a cada momento de palavras mal ditas. Uma miríade delas se forma cada vez mais. Até quando, meu Deus?


"Calma
Dê o tempo ao tempo, calma
alma
Põe cada coisa em seu lugar
E o dia virá, algum dia virá
Sem aviso

então..."

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

sem título

escrito em 17 de novembro de 2011

Passaram juntos cerca de 5 anos. Nesse período ela poderia dizer que tudo ocorreu da melhor maneira possível. Percebia cada dia mais seu amor crescer, e, com ele a ideia de que o eterno existia. Nenhum aviso, nem mesmo dos amigos mais próximos, faria com que ela desistisse. Mas veio o tempo e com ele as marcas do passado que manchavam a vida do outro. E foi nesse momento que descobriu que um terceiro elemento que havia desaparecido decidiu voltar a dar as caras. Ele, que jamais esqueceu nem mesmo por um minuto desse outro, viu que este poderia ser o momento certo para voltar à vida. Lembre-se que aqui falei somente do amor e da felicidade dela, e em nenhum momento fiz qualquer referência ao sentimento do outro. É sabido que a única coisa que se sabe é que na verdade não se sabe nada sobre ele. Hoje, após certo tempo de término ele ainda cobrava que fossem amigos, ora, tanto tempo não poderia ser jogado às traças. Ela, irredutível sequer dava moral. Ele, em todo esse tempo jamais a amou – nem mesmo por um minuto -, e isso ela jamais perdoaria.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

liv and let die

“ When you were young and your heart was an open book
You used to say live and let live
(You know you did, you know you did, you know you did)
But if this ever-changing world in which we live in
Makes you give in and cry

Say live and let die
(Live and let die)
Live and let die
(Live and let die) ”