Sempre que escrevo um poema, um poeta de verdade se remexe no túmulo, por dor ou por pena

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

piano bar

Então me ligue, diga que foi ao cinema, que foi assistir lanterna-verde. Que se mudou para o Rio de Janeiro, que não tem mais o sotaque mineiro. Diga que vai fazer astronomia, que desistiu dos concursos. Que voltou a dar aula. Que desistiu de deixar o cabelo crescer. Diga que eu fico mais bonita com o novo corte de cabelo. Que eu pareço mais inteligente. Diga que ainda gosta de HQ’s. Que eu posso voltar a ser a Harleen Quinzel. Que você conheceu coisas novas. Diga que amanhã você vai me ligar para irmos ao cinema. Porque eu tenho tanta coisa para te contar. Conte-me sobre os seus casos de amor. Aquela menina, a única, eu encontrei esses dias. Conte-me até os repetidos. Liga só para me fazer sorrir. Só para me dizer que ainda tem o mesmo carro. Só para me contar do seu tempo de faculdade. Só para me explicar mais uma vez as leis da física. Só para eu poder dizer mais uma vez que a lua está tão bonita que chega a doer por dentro. Só para colocar as músicas com aquele sotaque carioca que eu detesto. Só para cantar. Só para fazer as batidinhas da bateria no meu corpo. Conte-me qualquer coisa que eu ainda não sei. Fale-me sobre seus projetos. Diga que leu um livro novo. Que a gente precisa fazer alguma coisa juntos. Que a biblioteca continua a mesma. Que nunca vai gente bonita lá. Diga que você desistiu de seduzir as pessoas com bilhetinhos no carro. Que você largou o romantismo. Diga que a vida segue como sempre. Que eu só quero que você me pergunte se eu estou bem, para eu poder contar tudo de novo. Diga que eu estou emagrecendo. Que a gente vai dar volta de carro até a minha raiva acabar.

Liga, que eu já ouço Beatles, e que a gente pode ir a um show de verdade. Liga que daqui do outro lado do mundo ninguém precisa saber de nada. Diga que tudo vai passar.

Liga, que eu preciso do teu colo de novo.

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