Sempre que escrevo um poema, um poeta de verdade se remexe no túmulo, por dor ou por pena

domingo, 16 de outubro de 2011

adeus você

Pegou o primeiro trem e partiu para lugar nenhum. Ora, assim fica certo já que nunca veio de lugar algum. Sem nome, sem endereço, sem telefone. Andou pelas ruas da cidade uma última vez. Abraçou-o como se fosse o derradeiro fim. Sentiu por um instante todo o amor do mundo. Foi até o cais só para olhar o mar, só para fazer um pedido ao acaso. Que de nada adiantaria. Subiu até o prédio mais alto e se apoiou no parapeito, mas, sequer chegou a pensar em pular. Deu a sua última volta entre as pessoas. Lembrou-se de sentimentalismos baratos. De sentimentalismos, baratos. Do abismo que é deixar de sentir pensou que nunca mais voltaria. Voltou somente para encontrá-lo, e talvez fosse assim, ele estava esperando por ela todo o tempo. Esperando para que ela pudesse amá-lo sem justificativas, sem espera, sem pedir nada em troca. Ele estava lá o tempo todo, vagando, perdido, pedindo socorro. Ela apareceu, parecia tão bonita. Nada poderia impedir esse encontro, essa entrega. Nada poderia impedir a posterior fuga, recusa. Andou ela pela cidade uma última vez, lembrando-se de cada gesto, cada palavra, cada lugar, cada momento. Desejou pela última vez nunca tê-lo conhecido. Pegou o primeiro trem e partiu para lugar nenhum. Não haveria mais razão para sobreviver. Sem nome, sem endereço, sem telefone, sem coração.



“Adeus você
Eu hoje vou pro lado de lá
Eu tô levando tudo de mim
Que é pra não ter razão pra chorar
Vê se te alimenta
E não pensa que eu fui por não te amar”

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