Sempre que escrevo um poema, um poeta de verdade se remexe no túmulo, por dor ou por pena

segunda-feira, 16 de julho de 2012

estátua

" MALFADADO E MISTERIOSO HOMEM! Desnorteado no esplendor de sua própria fantasia e tombado nas chamas de tua própria juventude! De novo, na imaginação eu te contemplo! Mais uma vez teu vulto se ergueu diante de mim... Não, não como te encontras, no frio vale, na sombra!, mas como deverias estar, dissipando uma vida de sublime meditação naquela cidade de sombrias visões, tua própria Veneza, que é um Eliseu do mar querido das estrelas, onde as amplas janelas dos palácios paladinos contemplam, com profunda e amarga reflexão, os segredos de suas águas silenciosas "

o visionário
edgar allan poe

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“A Estátua recuperou a vida!” Não, não recuperou.

Jaz sobre a cama o corpo do que outrora foi um homem. Pergunta-se ao deus do Acaso em que momento mesmo deve-se sucumbir ao desejo, mas este nada responde e talvez o deus do Caos aqui nos caiba com melhor resposta. Nenhum desses deuses, entretanto arrisca-se a fazer qualquer contato com um reles mortal e a vida aqui no mundo segue adiante. Segue?!
Quando, um instante após o derradeiro desfecho, segue-se aquele mesmo caminhar a passos curtos e a mesma velha e inútil existência. Aquela lúgubre existência a que tantos bons homens cedem. Aquela melancólica e mórbida vida. E com bons sentimentos se desfaz o mundo.
Ouço três batidas na porta, abro e não vejo ninguém, e não esperaria encontrar alguém do outro lado da porta de madeira de cor marrom como os caixões. Com profunda atitude de repúdio fecha-se a janela, e com singularíssimas atitudes de pequenas culpas os homens destroem o mundo.
Assim, sem pensar nos prazeres da carne eleva-se a vida a um patamar que eu jamais reclamarei o posto.
Achei-me remexendo alguns livros de horror, de mistério e morte, como alguém que não tem mais nada a esperar. Como alguém que finalmente sucumbiu à doença que atingiu seu grande amor. Beatriz no espelho, Beatriz em suas inúmeras faces, e tudo acaba quando sobre todos os pontos do Aleph o que resta é apenas Beatriz Viterbo.
Perder a fé nas coisas é algo que atinge a todos, afinal.

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