Sempre que escrevo um poema, um poeta de verdade se remexe no túmulo, por dor ou por pena

sexta-feira, 6 de julho de 2012

um personagem de dostoiévski jamais será Borges.

“Sou um homem doente... Um homem mau. Um homem desagradável”
Memórias do Subsolo - Fiódor Dostoiévski.

Disseram outrora que não se poderia entender ou prever o que faria o homem do subsolo. Que não se poderia compreender completamente o que seria tal homem. O ser dotado do mais mesquinho sentimento, mas ao mesmo tempo capaz de ser a mais dócil criatura. Um ser talvez, e sobretudo, indefeso.
Faz algum tempo conheci esse personagem dostoievskiano. “Um ser que vem do nada e parte para lugar nenhum. Alguém que aparece de repente, que ninguém sabe de onde veio nem para onde vai. A man out of nowhere”. Diria Nelson Brissac, se aqui me couber a referência.
Um ano, ou menos que isso, foi o suficiente para conhecê-lo, construir e destruir uma das coisas mais bonitas que já me aconteceu.
Um homem do subsolo nunca deixará de sê-lo.
Aqui caberia outro personagem dostoivskiano, aquele eterno marido, um complemento da esposa, mesmo possuindo indiscutivelmente personalidade própria. E, no fim das contas, complementos são sempre vazios e mendigos de atenção.
Resta apenas uma referência a Hawthorne Em meio à aparente confusão de nosso mundo misterioso, as pessoas estão ajustadas a um sistema de modo tão preciso, e os sistemas ajustados uns aos outros, e a um todo, que, ao afastar-se disso por um momento, um homem expõe-se ao risco terrível de perder o seu lugar para sempre. Tal como Wakefield, pode tornar-se,por assim dizer, o Pária do Universo.Um homem do subsolo jamais deixará de sê-lo.

Borges jamais se orgulharia disso.

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