Sempre que escrevo um poema, um poeta de verdade se remexe no túmulo, por dor ou por pena

domingo, 5 de setembro de 2010

• Srta. Poulain


And so it is
The shorter story
No love, no glory
No hero in her sky




Escrito o nome em um pedaço de papel manchado de vinho. Não havia mais nada no copo. Então era assim, estradas, destinos. Nenhum pote de ouro no final do arco-íris, sem mais cores. Tentou desenhar alguma coisa, lembrara-se de le fabuleux destin d'amélie poulain, pequenos prazeres, pensou. Mas até mesmo Amélie, não ficara sozinha no final. Só muito mais tarde foi perceber que é amor que arrasta as pessoas. Seja para onde for. Uma pena que não é o amor que faz com que elas fiquem. Olhou para os pulsos, nunca tivera coragem para grandes desfechos. Nunca tivera coragem. As pessoas se inventam para continuarem vivas. Nem sempre funciona. Olhou para o papel manchado de vinho novamente, agora parecia sangue. Ou talvez parecesse desde o princípio. Lembrou-se de rosas, rosas vermelhas. Vermelhas como sangue. Não se sentia triste, não sentia nada. Esse estranho não sentir nada a atormentou de novo. Talvez pequenos gestos fizessem com que ela visse tudo de outra forma, assim como a Srta Poulain. Esquecera-se disso. E se o tal estranho sentimento fosse felicidade ? E como poderia ser ? Não tinha motivos para ser. Felicidade é pré-programa, estar feliz por. E ela não estava feliz por, nem com. Aliás, a noite havia sido um fracasso. Como então no fundo da taça vazia, ao lado do pedaço de papel manchado de sangue ou vinho, ela conseguia ver algo que não era ruim nem bom, mas que estava muito próximo de aprazível? Estava liberta, assim como Poulain quando descobriu a caixa de brinquedos, quando viu a felicidade. Faltava agora apaixonar-se novamente. Ou talvez já estivesse, e não saberia dizer por quem. Talvez fosse simplesmente pela vida. Quem sabe seu destino mudou, para sempre...





Did I say that I loathe you?
Did I say that I want to
Leave it all behind?

I can't take my mind off of you

My mind...my mind...
'Til I find somebody new

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

• ao som de isabella taviani

Eu pensei em escrever alguns poemas
Só pra tocar seu coração
Eu sei, uma pitada de romance é bom
Meu bem ...


Deu alguns passos olhando pinturas antigas, monocromáticas. Três ou quatro quadros. Parou, e por alguns segundos tudo que se pudesse imaginar passou pela sua cabeça. Imagens, reais, imaginárias. Talvez o monocromático tenha feito com que ela se lembrasse de algum princípio físico, talvez. Decidiu voltar para o apartamento.
Dormiu e em meio a vertigens noturnas relembrou velhas noites. Tentação. E ele aparecia e sempre aparecia e tornava a aparecer. Assim, repetidamente. Tinha a impressão de que de alguma forma o sentia. O cheiro invadiu todo apartamento. Desejava aquele homem como nunca antes desejou. Volúpia.
Abandonados, cúmplices, amantes enfim. Partidos pela frieza que a separava do resto do mundo. Ela que nunca foi assim. Não queria um futuro, queria um agora. Desistiu de todas as convicções e ideologias. Atordoada por imagens que nada significavam. Sim, desejava aquele homem.
Então pensou em corpos se apertando, se aquecendo e se completando. Queria tornar sentimentos pálidos em reais.


Eu pensei em comprar algumas flores
Só pra chamar mais atenção
Eu sei, já não há mais razão pra solidão
Meu bem, eu tô pedindo a sua mão