Sempre que escrevo um poema, um poeta de verdade se remexe no túmulo, por dor ou por pena

domingo, 19 de outubro de 2014

terça-feira, 16 de setembro de 2014

daquelas tardes vazias



respingos das noites de luar.
das letras de músicas.
dos sons no carro.
das conversas.
dos bilhetinhos.
dos desenhos.
das mãos no cabelo.
da cor.
do toque.
do nada que sempre esperou por tradução.
do seu olhar lançado sobre o livro,
na biblioteca,
sempre que passava alguma garota.
e de desarrumar as suas coisas na mesa.
a saudade de sempre, de ter você por perto.
porque agora você só tem olhos para as garotas de Ipanema...



... Mas quando o neon é bom
Toda noite é noite de luar
:) 


"diga a verdade, doa a quem doer, doe sangue e me dê seu telefone" ;)



quinta-feira, 4 de setembro de 2014

virando a noite
pra te mostrar um verso
inventa(n)dos  amores

"seu sorriso é o que eu preciso e quanto ao resto, eu juro, tanto faz"

sexta-feira, 13 de junho de 2014

"Levo a vida como o vento, frente ao mar como um farol
Vê que o tempo é necessário e que o amor é como sol
Que um dia fecha as portas e noutro dia abre igual
Que a gente possa ver o que não viu até então"
- vanguart

concrete jungle

do encontro no meio da selva de concreto
aos dois segundos de olhar cruzado
e aos outros dois dos que passaram e olharam para trás


"me encontre agora lá na esquina do hotel"

domingo, 8 de junho de 2014

quarta-feira, 4 de junho de 2014

(h)ouve

enquanto tanto canto
quanto o canto dos mortais
pra você deixo o cais
  
que o encanto o  vento nunca leve
e mesmo que no canto de outra cidade
longe de todos ais

(h)ouve cantos, foste cais.





"ele me faz tão bem, ele me faz tão bem, que eu também quero fazer isso por ele"

sábado, 3 de maio de 2014

(en)canto

enquanto é maior que tudo que me vale a pena
                                                             e o poema

enquanto a poesia basta



"só pra você eu tenho os olhos e meu coração
espero o teu sorriso e as tuas mãos

te encontro e faço tudo que quiser"
- vanguart

tão cheio de amanhã

sabendo que o instante
se encerra entre o ir e o adiante
mas que nunca será distante

talvez



"você é a vida da minha vida"
- vanguart



quarta-feira, 30 de abril de 2014

do último dia de abril

abriu meus passos em descompasso
abriu o horizonte da falta de perspectiva

mas, abriu a janela e deixou a luz entrar
abriu um sorriso pro quotidiano da minha vida

abriu a porta e deixou entreaberta
no último dia, abril

segundo domigo de maio

só existe silêncio e solidão
debaixo da linha do equador

sábado, 26 de abril de 2014

presente
pré sente
pressente
futuro

ode ao moderno

a língua portuguesa que me desculpe
mas considero um anacronismo
os querer-te, fazer-te, amar-te

o mundo moderno não tem hífem-te
tem espaço só para pausas, suspiros,
(des)construção

segunda-feira, 21 de abril de 2014

estrelas em mosaico
as luzes do outdoor que cintilam
é só haikai de feli(z)cidade

(aguardando uma imagem que (com)ponha esse poema)

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Piano bar

e agora você só tem olhos pras garotas de ipanema

"você me ligou naquela tarde vazia, e me valeu o dia"
todos os dias
chega pra cá
que aqui desse ângulo
seu corpo fica melhor com o meu

"que esse lance de um tempo nunca funcionou pra nós dois"

dividida


Jusqu'à La Mort

outono
e os pés com plantas

"e o quotidiano da minha vida complicou-se" Hilda Hilst

Little Red Fish

o peixe do aquário
no pequeno retângulo de água
só tem água e oxigênio
para o peixe do aquário

"mas tinha que respirar, todo dia, todo dia, todo dia."

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Rule My World

o teu corpo na fotografia
daqueles primeiros anos de ginásio
o teu corpo  distante
tal qual a flor do lácio

o teu corpo em pena e poema
num instante
o t(eu) corpo estirado no m(eu) quarto

calor nº 1

o sol entra pela fresta da janela
o ventilador ligado

se a gente não morre de calor
morre de tédio

segunda-feira, 31 de março de 2014

disse o corvo

hoje um poemirim
vale mais que qualquer linha torta
ou morta


"nem choro 
nem velo"

Guilherme Damasceno  - poemirim

segunda-feira, 24 de março de 2014

férias também acabam em nostalgia ou cabeça vazia é oficina do diabo



Passei pelo bairro de minha infância, do parque que era parada quase obrigatória na volta da escola que ficava no quarteirão de cima restaram apenas canos enferrujados, mato e uma cerca quebrada. Os bancos da praça também quase não mais existem, são apenas lugar de paragem dos drogados que não sabem se é dia ou noite. Antes não existia bem um parque, lembro-me que me sentava com o senhor guardinha que fazia tapetes manuais naquelas armações de madeira. De lá eu olhava minha irmã que jogava vôlei com as amigas, não sei quantos anos eu tinha, talvez quatro ou cinco. Também não me lembro onde minha mãe se encontrava nessas horas, talvez na casa da minha tia  que ela sempre visitava com a minha avó todas as manhãs. A casa da minha tia situa-se exatamente no quarteirão ao lado do quarteirão da praça, mais precisamente entre a praça e a escola que estudei dos seis aos onze anos. Depois dessa casinha demolida, onde ficava o guardinha, veio o parque. Ou não me lembro muito bem se eles conviveram durante certo tempo juntos, a casinha, o guardinha e o parque. Creio agora, forçando um pouco a memória que o guardinha não cuidava da praça, mas a praça sediava uma caixa d’água, provavelmente a que abastecia o bairro, e o guardinha vigiava a caixa d’água e não a praça. Recordo do guardinha sair correndo e deixar o tapete sobre o banco para fechar o registro porque a água estava transbordando pela caixa, que não era bem uma caixa, mas um espécie de cano comprido de uns três ou quatro metros.  E depois disso veio o parque, ou conviveram juntos. Ainda me recordo da vertigem que era aquele brinquedo sem sentido que roda, roda, roda até o estômago embrulhar. Lembro-me também do brinquedo que era uma espécie de treinamento militar com uma série de obstáculos, e da primeira vez que consegui dar cambalhota segurando as argolas, julgando fazer arte circense. Visitava meu tio-avô nessa casa que era da minha tia-avó, ele sempre estava sentado na sua cadeira de balanço na área ao lado de um carranca que ele dizia ter poderes, objeto que minha mãe julgava feio mas que sempre achei deveras interessante. Ele sempre arranjou namoradinhos para mim, geralmente os doidinhos que passavam na rua ou os meninos de cor escura e desdentados, pra ser sincera, nunca me opus veementemente a nenhum deles e até achava graça. Ele também me contava história de quando trabalhava e de como perdeu o dedo no serviço, ele tinha uma mão com um dedo pela metade. No quarteirão do lado esquerdo da praça, o da casa da minha tia-avó era do lado direito, referência de quem estava sentado no banco da casinha do guardinha que fazia tapetes e vigiava a água que transbordava, existia uma mercearia, lá com pouco dinheiro era possível fazer a alegria de toda criança. Seu Pedro, o dono da mercearia, sempre foi um ótimo atendente de mercearia, daqueles simpáticos e que te chamam não pelo nome, mas pela alcunha de neta de fulano de tal. Na mercearia, ao contrário do que se vê hoje em dia, sempre existiam aqueles velhinhos bêbados simpáticos que sempre deixavam você escolher alguma coisa do lugar e anotavam na conta deles. Meu avô era um desses velhinhos, mas não tão simpáticos, que ficavam na mercearia. Às vezes bebia demais e algum dos filhos tinha que buscá-lo, mas não me lembro muito dessas cenas, só de alguns cortes e machucados que necessitavam de curativos. Minha avó costuma contar que eu era a neta preferida dele, por algum motivo a única que ganhava presentes e a única que recebeu realmente seu afeto. Meu avô era moreno, alto, e fazia bicas, que não sei qual o nome moderno para isso. Transferiu o ofício para seu filho, meu tio. Recordo de sua mão trêmula e dos “esbravamentos” quando deixava algum instrumento cair em virtude da doença.
Meu avô foi o primeiro a morrer, em virtude de uma apendicite mal curada. Há pouco tempo soube que o Seu Pedro também morreu, mas não sei de quê. Minha mãe já não pode mais atravessar a praça para ir à casa da minha tia-avó porque também nos deixou. No pequeno alpendre da minha tia-avó também não se pode mais encontrar meu tio-avô com suas histórias, esse, eu sei, morreu de velhice, os outros porque o tempo pode ser cruel demais.
A mercearia continua abrigando bêbados, agora não tão simpáticos. O parque, como disse, foi destruído. O tempo não só corrói o metal, pessoas foram perdidas nesse entremeio.
Escrevo em um quarto que outrora foi meu, deitada em um colchão sem lençol e cercada por um monte de caixas empoeiradas.

“Lava que cobre e queima tudo, tudo a nossa volta
Solidão, não tem mais aqui
Muito amor, des' que você chegou”

quarta-feira, 5 de março de 2014



Ócio ou acaba em dor ou em tédio
Nem tudo tem remédio

Horas mortas




Você foi embora e não se despediu
Soubesse antes teria escrito uma carta só pra ficar guardada, quiçá com alguns borrados pelas lágrimas
Talvez pouco te choraram
Os letreiros, as ruas, até mesmos os nomes das ruas continuaram a mudar

Às vezes sobra apenas o cheio/vazio da solidão
E estar cheio de tudo – ainda que de solidão – quase não leva a lugar algum

A voz calada
A alma silenciada
As horas mortas
A felicidade inexistente

Porque desde o dia que você foi embora só há um pequeno esforço de continuar respirando
Você foi embora e levou um pequeno pedaço vital de mim

Não há muito o que buscar na memória
A gente tenta atravessar a vida atrás de pequenas revelações
Porque no fim todos sabemos que a vida não tem sentido algum