Sempre que escrevo um poema, um poeta de verdade se remexe no túmulo, por dor ou por pena

sábado, 20 de julho de 2013

terça-feira, 9 de julho de 2013

o pequeno latifúndio do seu coração

"Uma vida é pouco para tanto
Mas no meio desse encanto tempo deixa de existir"

gesto
sorriso
céu repleto
irradiando luz


"Bem, se não for amor eu cegue
Bem, se não for amor eu fico

eu sigo, sigo, sigo, eu fico cego por ti."

segunda-feira, 8 de julho de 2013

to the end

Tira o sol da canção
e deixa a gente apaixonado
em pleno amor
sem pensar direito 

"And it looks like we might have made it
Yes it looks like we've made it to the end"

sábado, 6 de julho de 2013

as ondas.



“Deus, como a vida é essencialmente odiosa! Que truques sujos faz conosco;, num momento estamos livres;  no outro, é isto” [p.282]
As ondas, escrito entre 1929 e 1931, é total fluxo de consciência. Nas palavras de Woolf queria ela incluir praticamente tudo, impregnar, incluir o nonsense, o fato, o sórdido, mas tornados transparentes. Não há dúvidas de que o fez, a certa altura chegamos a gritar dentro de nossa própria consciência, e pedimos silêncio. Imploramos que as personagens parem de pensar, de observar, de desmistificar essas vidas sórdidas e, ainda assim, não conseguimos parar de ler. Contraditoriamente foi o livro que mais demorei a ler, talvez sob alegação também levantada por Virginia em certa parte da narrativa quando diz que essa desordem, essa separação, esse caos da vida nos impede de viajarmos e revermos amigos, de sairmos e nos encontramos, e acrescento, de sentarmos e contemplarmos uma obra de arte.
Por alguma vontade cósmica qualquer terminei a leitura em um momento que refletia, e aqui me arriscaria à soberba, quase as mesmas coisas. A narrativa se passa em torno de seis amigos, Bernanrd, Neville, Jinny, Louis, Rhoda e Susan, com personalidades distintas. E pergunto-me como no blues de Coward, “Em um mundo tido como humano e civilizado, por que é que tudo tem que dar tão errado?” Dos amigos próximos, ainda que por vezes distantes em pensamento, partem os primeiros fios de separação. Acreditamos conhecê-los, mas mal sabemos de nós mesmos, quem dirá dos outros, quem dirá do destino. Sentimos a mudança quando a nós é adicionado um amigo, mas o esquecimento – e mesmo o não conseguir esquecer – traz profundas transformações em nossas relações. O fio partido de quando os amigos se vão e também de quando nós decidimos partir.
Das máscaras que colocamos diariamente, não por maldade, não por debilidade de nossa fraca alma, mas porque a vida exige, e mesmo quando tentamos nos despir de todas elas, o que encontramos são mais máscaras. Nas falsas tentativas de dizer “Sou isto, sou aquilo”, diz Louis.  Como em um conto de Poe em que o pintor retira a vida ao retratar a mulher amada e um romance de Wilde em que quando se mata o retrato impregnando de vida, extingue-se a vida de seu muso; tecemos redes e nos tingimos com a cotidianidade da vida, ao nos desmascararmos ficaremos vulneráveis à morte, e assim já estamos simplesmente por refletir sobre isso. Talvez os ignorantes sejam felizes.
E em certo momento da narrativa pergunta-se “O que são histórias?” “Qual é a minha história?”, e acreditamos conhecer a história de nossos amigos, entender de suas dores e seus sofrimentos. Nada sabemos que não seja a trivialidade de algo que é bastante concreto como a caneta está na mesa, ou o jantar foi servido, afora isso tudo é apenas conjectura.
Nos separaremos irremediavelmente, como me separei de meus 3 amigos, como eles se separaram de mim. Como se separaram Bernanrd, Neville, Jinny, Louis, Rhoda e Susan. Nós que por muitos momentos parecemos estar em completa e absoluta sintonia também fomos tomados pelas ondas do correr da vida. Nós que ainda que nos encontremos e em uma reunião assistíssemos episódios de The Office, de Family Guy, de Simpsons, que discutíssemos Borges, que jogássemos vídeo-game a madrugada inteira e dormíssemos, estaríamos irremediavelmente distantes, porque somos outros, porque a vida é outra e porque a amizade se dissipou. E ecoa as palavras de Rhoda: “Não ande mais, todo é resto é tentativa e fingimento. Aqui é o fim.”
A morte de um amigo, Percival, também é um tema constante em As ondas, mas também a morte de quem continua vivo. Assim aproximo mais uma vez a narrativa da vida real, de todos esses nossos amigos que estão mortos, mesmo vivos. Mas que ainda assim eu me arriscaria a tê-los novamente por perto um instante, para que não sejam como Percival lembrança bramida de esquecimento.
E a vida nos destruiu, destruiu a nós e a nossos amigos. E chego a acreditar que realmente nascemos para ser sozinhos.
 
“O espaço da minha mente ficou claro. Vi através das densas folhas do hábito. Debruçado no portão arrependi-me de tanta desordem, tanta irrealização e tanta separação, pois não se pode atravessar Londres para ver um amigo, com a vida tão cheia de compromissos; nem pegar um navio para Índia e ver um homem nu a flechar um peixe em águas azuis. Eu disse que a vida fora imperfeita, uma frase inacabada.” [p.273]
As ondas, Virginia Woolf, trad. Lya Luft. 
Foto: Nicole Kidman interpretando Virginia Woolf em As horas.
 
 

quarta-feira, 3 de julho de 2013

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a lembrança menos durável
memória do instante
sensação fictícia
de que o seu olhar é o bastante

terça-feira, 2 de julho de 2013

a seta e o alvo



O barulho frenético dos carros que passam na rua e atrapalham a música do que poderia ser um entardecer tranquilo. São seis da tarde e não se pode ouvir o bater do próprio coração tamanho é o alarido dissonante do fim do dia. Impossível seria continuar nessa vida, todos os dias, de todas as horas a fio sem um pingo de estresse. Com o tempo as pessoas e os dias ficam menos tolerantes. Com o tempo esse barulho excessivo incomoda. Com o tempo não ter tempo para simplesmente contemplar a vida, nem que seja essa mesma vida mediocrezinha de todos os dias, cansa. Até quando os barulhos ensurdecedores das buzinas dos carros, das pessoas falando alto nos lugares fechados, o ronco do motor, o som alto da televisão, dos toques de celulares, das pessoas que não conhecem os fones de ouvido serão mais alto que a voz de nossa própria mente? Até quando aguentaremos o barulho das grandes metrópoles e voltaremos para casa cansados do dia exaustivo e infrutífero de trabalho? Até quando viver vai ser esse acordar cedo e dormir tarde sem nenhum retorno benéfico? Até que ponto a nossa mente aguenta sem enlouquecer?

Hoje eu queria que o mundo fosse feito de silêncio.

Sua meta é a seta no alvo,
Mas o alvo, na certa, não te espera.

então me diz qual é a graça”