Sempre que escrevo um poema, um poeta de verdade se remexe no túmulo, por dor ou por pena

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

• derretendo satélites



Era a primeira vez que sentia tal coisa, ou talvez não fosse, acontece que seguindo a forma de progresso evolucionista, não sei se cabe aqui, mas seguindo essa norma evolucionista, não conseguia acumular memórias e sensações, qualquer nova memória e nova sensação era realmente nova, e realmente não sei se evolucionista cabe aqui. Acontece que de súbito esse pensamento intempestivo, perceba como se repetem palavras nessas frases, acontece que essa intempestividade, pois lembrara-se de ter ouvido essa palavra de alguém e decidira que deveria utilizá-la, mesmo que assim repetidamente, enfim, esse pensamento súbito inopinado atormentara repetidamente. Dito, feito e acontecido novamente lá estava o pensamento de novo, reverberadamente, e também não sabia se a palavra reverberadamente sequer existia, o fato é que o significado de reverberado era brilhar em virtude da reflexão de luz, e mesmo que reverberadamente não existisse tinha-se licença poética e tenho dito, mesmo que não estivesse escrevendo uma poesia e nem apresentasse o dom para tal, a vida em si já era poética demais, e que reverberadamente tão bem reproduziria o refletir-se de luz e calor que acontecia no momento. Lembra-se de ter anotado algo como “o cinema é um falsário” antes que seu raciocínio lógico se fizesse prisioneiro do misto de sentimentos indefinidos. E não poderia dizer de que forma acontecera toda essa modificação que de súbito intrometera-se em seus pensamentos até então serenos, entretanto, talvez serenos sejam os pensamentos que agora perpassam os sentimentos, e sei que isso parece não fazer sentido algum, todavia faz. Ocorre que uma oportunidade dessas em que se perde a razão e o senso não se deve deixar passar, ainda mais quando de forma tão inequívocada, e sem precedentes surgem sentimentos assim. Não demorou muito, foi apenas uma questão de segundos, ou mesmo milésimos de, que fez com que um misto de aprazer e sentimentos não identificáveis tomassem todo o seu corpo, sei que aqui a palavra corpo realmente não cabe, já que se refere a toda estrutura física, nesse sentido deveria referir-se somente a coração, pois corpo seria bem menos específico. Sabe-se todavia que esses sentimentos não identificáveis não poderiam partir apenas do coração, sentidos assim se refeririam aos órgãos como visão, audição, olfato, gosto e tato, só que de mesma forma sabe-se que até então somente a visão e a audição foram utilizadas. Mas fica melhor assim, que esses sentimentos tenham vindo do coração e dos sentidos, mais poético. E vindo esses sentimentos do coração e dos sentidos e sendo a situação tão inusitada, como disse, não poderia deixar passar. Decidiu que na próxima conferencia sentar-se-ia ao lado dela, pois queria utilizar os outros órgãos dos sentidos, e isso não poderia deixar passar. Dito e feito, sentou-se ao seu lado, no palco as pessoas mais pareciam abrir a boca sem nada dizerem, escutou duas ou três palavras, queria aproveitar o momento, e essas duas ou três palavras foram suficientes para que puxasse assunto, assim inequívocadamente. Era uma pergunta daquelas sem respostas, que escreveu em um papel e mostrou, para que ao ler, o mínimo que poderia fazer era sorrir, sorriu e disse uma palavra, agora sim quatro sentidos completos. Bem sabe-se que para o último sentido da lista ter tomado posse precisaria mais do que de coragem para sentar-se ao seu lado, e talvez algumas doses de wisky, que como bem se sabe não poderia conseguir no momento. Então termina-se a estória assim, sabe dela apenas o que achou nesses dicionários de conglomerados de redes em escala mundial que conecta milhares de pessoas. Mas o fato de ter usado quatro dos cinco sentidos deixou esse êxtase de sentimentos não identificáveis que perpassam os sentidos, desprendem-se de coisas materiais e ficam vagando por si só, reverberando a cada momento em que a imaginava no palco, ou passando entre uma poltrona e outra.


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perdendo senso
derretendo satélites ♪
* desenho meu, esqueci de assinar, que dizer ¬¬

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