Sempre que escrevo um poema, um poeta de verdade se remexe no túmulo, por dor ou por pena

sábado, 30 de julho de 2011

Folhetim

ao som e letra de Folhetim - do Chico



Se acaso me quiseres, sou dessas mulheres que só dizem "sim!". Por um dia e uma ida ao cinema, todo o amor que houver nessa vida. E pela volta na praça, as saídas de mãos dadas, todo o amor que houver nessa vida. Todos os convites aceitos, e fica certo. Por um coisa à toa, uma noitada boa, um cinema um Botequim. Os presentes infantis, os presentes de verdade, a loja de cd’s, as camisetas de super-herói, as aulas de física, as figurinhas do Batman. E se tiveres renda aceito uma prenda, qualquer coisas assim, como uma pedra falsa, um sonho de valsa ou um corte de cetim. A pulseira azul em meio a propostas de visita a Angra dos Reis agora se encontrava-se no fundo da caixa de bugigangas. Poderia ter jogado fora. Eu te farei as vontades, direi meias verdades sempre à meia luz. As conversas sobre astronomia, e o tempo perdido que era dedicado a falar sobre os outros. As promessas de um futuro. E te farei vaidoso supor que é o maior e que me possuis. Os melhores beijos e as melhores noites de amor, todo amor que houver nessa vida. Mas na manhã seguinte não conta até vinte: Te afasta de mim, pois já não vales nada. E me fale e me peça amores, por um instante, não mais. És pagina virada, descartada do meu folhetim.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

só não se perca ao entrar...

Procuraria por uma trilha sonora, pois como bem se sabe todas as cenas da vida necessitam de uma. E não encontraria porque talvez dessa vez não se tratasse de uma cena qualquer. Então tentaria se lembrar de gestos e atitudes, qualquer vestígio ou sinal que indicasse que algo poderia dar certo. E não lembraria porque estava distraída demais para notar qualquer coisa, e descobrira a pouco que não tinha a memória muito boa. E nessa linha tênue, que separa versos de um lado e doutro, que a pouco lembrara existir, talvez pudesse compor poemas inteiros. Mas agora não saberia dizer se o convite quase feito realmente se tratava de um convite, ou seria apenas uma dessas propostas que se fazem descompromissadamente a esmo. E tentaria inutilmente rememorar onde haveria deixado aquela resposta que deveria ter sido dada no momento certo, ou se deveria acreditar em acaso, ou escolhas. E como não tinha a memória muito boa e estava distraída demais para perceber qualquer sinal, ainda que dos astros, a busca seria ineficaz, e só faria lembrar a sua incapacidade de mentir, ainda que soubesse esconder sentimentos muito bem. E não poderia dizer ao certo se era o caso de pensar nesses imprevistos, que de uma forma ou de outra, acusam que nem sempre se tem o controle do destino. E então agora acreditaria ela em destino, como tantas outras vezes acreditara, até o momento certo em que a linha se rompia e a vida era novamente entregue aos deuses ou ...
E colocaria todos os versos e todos os textos e todas as propostas no futuro do pretérito porque lá era certo que não se apagaria a qualquer brisa do tempo. E então tomaria um café aqui ou em Paris, e riria de todas as piadas sem graça e dos comentários sem sentido. E se isso não era amor não poderia saber o que é, e não se atreveria a descobrir sob o risco de se extinguir. E estando longe mandaria postais e fotos, como se do outro lado do mundo o amor fosse mais bonito. E o amaria com todo o sentido que a palavra carrega. Por um instante, ou pela eternidade.



E ao senhor de iludir manda avisar
Que este daqui tem muito mais amor pra dar ♪

segunda-feira, 4 de julho de 2011

não sei pra quê fui cantar pra você

Poderia começar com “eu estava em paz quando você chegou”, mas sabia que isso sempre e para sempre se repetiria. E voltaria de férias, e talvez não encontrasse a casa como deixou, nem o lugar. Da janela lateral do quarto de dormir as horas não passariam como de costume, não poderia voltar atrás. Melhor encerrar qualquer possibilidade de sentimento que poderia vir a ser um sentimento outro, fora do lugar-comum, longe de qualquer razão de ser. Oh meu Deus, porque mesmo isso acontece, por quê? Poderia falar da primeira vez que viu, ou que quase não viu, se fosse para ser mais exata. Aparentemente satisfeita prometeu a si que qualquer coisa seria suficiente, esqueceu que nunca é. Nem começo de tarde, nem o dia todo seria bastante para. Não compreendia, mesmo inerte não poderia deixar de pensar. Tinha um livro, alguns textos e páginas de revista. Quando ao lado ainda é muito mais longe que qualquer lugar, ela continuava a querer um sol acima do sol. Não haveria nenhum jardim, nem flores, nem corações partidos, nem reparos. Sairia caminhando devagar, olhando a cidade, as luzes ao longe, uma canção, qualquer som que saísse de um piano e indicasse uma música que sequer saberia definir o ritmo. Pouca gente poderia entender, afinal não há tempo para isso. Daqui a pouco começaria a chover, e no apartamento vazio, aos solitários pouco resta além da solidão. Abriu uma garrafa de conhaque e voltou a fumar.



“ Não sei pra quê
Fui cantar pra você
Essa hora “