Sempre que escrevo um poema, um poeta de verdade se remexe no túmulo, por dor ou por pena

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

• morangos mofados


( Meditarias: as pessoas falam coisas,
e por trás do que falam há o que sentem,
e por trás do que sentem há o que são e nem sempre se mostra.
Há os níveis não formulados,
camadas imperceptíveis, fantasias que nem sempre controlamos,
expectativas que quase nunca se cumprem e sobretudo, como dizias, emoções.
Que nem se mostram.
Por tudo isso, infelizmente, repetirás, insistirás completamente desesperado,
e teu único apoio será a mão estendida que, passo a passo, raciocinas com penosa lucidez,
através de cada palavra estarás quem sabe afastando para sempre.
Mas já não sou capaz de me calar, talvez dirás então, descontrolado e um pouco mais dramático,
porque meu silêncio já não é uma omissão, mas uma mentira.
- natureza viva, em morangos mofados, de caio fernando abreu )



Sim, é bem assim mesmo. Eu não tenho um coração, chame do que quiser, pueril, vulgar, pouco me importa. Eu não vou ficar aqui babando ovo pra ninguém, porque isso não me ajuda em nada, se era pra ser e não foi, não me venha com meias palavras. É hipocrisia da minha parte e eu não quero ser assim. Pra mim todos vocês são iguais, e por mim colocaria todos em uma caixa. O primeiro que pedisse água receberia veneno, depois disso nenhum se arriscaria mais a pedir, mas já depois de algum tempo estariam cansados e doloridos então pediriam água novamente, na esperança que esta também viesse com veneno, mas não viria; e morreriam assim lentamente, um carne do outro. Claro que estou dizendo em sentido metafórico, não, talvez não esteja. Pouco importa, já te disse. Vocês são todos iguais. Lamento pelo sexo, e cada vez mais tenho pensado nisso, foram muitas oportunidades não aproveitadas, que só depois eu percebi. Fico imaginando você nu, o nu que eu gostava de ver, aquele lance de corpo no corpo, queria isso de novo, pra saber que não foi pelo sexo ou pela falta de. Fizemos sexo alguma vez? Isso tem me pegado, divagaria por horas sobre isso. E penso nessas horas, que talvez você não seja como eles, e me lembro de um texto do Caio “E não dou um tostão por eles todos. A você eu amo. Raramente me engano.” Mas se é amor ou não eu não sei, um dia foi, foi porque o amor é cego e eu sei que o meu era. Logo agora, vejo tantos defeitos, prova que era amor e prova que não é mais. Isso já foi há quase sete anos, aliás completa agora em novembro, sei porque naquele mesmo dia em que você me fez de boba, ele estava lá, e me tirou do poço em que eu iria me atirar. Nunca me esquecerei disso, e talvez se pudesse voltar no tempo teria ficado com ele e com você, espera, eu sei que não faria isso, e de qualquer modo não teria dado certo. As coisas são como são. E fico pensando nisso de você ser diferentes deles todos, mas não dá pra ser, quando se vive junto é. Não tem porque ficar pensando nisso tudo, já passou. É como eu te disse, não vou ficar com meias palavras. Isso me lembra outra frase do Caio “Fica combinado assim: se não te atrapalho, você me dá licença de ser assim do jeito que eu sou?” . E vai ver eu sou assim mesmo. Deixa estar, porque o monstro que habita em mim não sabe perdoar.


Com afeto e sem ironias,
Pelo tempo que passamos juntos
o meu carinho de sempre.

Jeannie

2 comentários:

Isa disse...

eu preciso dizer " caralho, Suelen ! " foi profundo esse, heim? tá ficando muito mestra. potente até ;*

Samara S. Piassi disse...

Perfect e .