O quarto que
outrora foi único e um dia também foi repartido, duas vezes repartido. Um
quarto quadrado que tivera num dia parede brancas, noutro brancas e azuis,
noutro escritos (algo de Isabel Allende) e desenhos, noutro fotos, noutro
pôsteres de atores e bandas. Um que um dia ao lado da cama da irmã tinha uma
pequena televisão e um Super Nintendo. Onde primeiro se fez a pequena coleção
de livros que hoje já é grande se não pelo número, pela preciosidade deles.
Onde nessa mesma estante colocou as miniatura raptadas da casa do avô após a sua
morte, um carro, um avião e um helicóptero. Nessa mesma estante uma aranha
também raptada de lá e um vidrinho com algo colorido que um dia ele lhe deu
dizendo ser areia. A saudade do avô também morou um pouco naquele quarto. Uma
escrivaninha antiga roída por cupins com colagens que a mãe ajudou a tirar de
revistas e livros. Não se lembra muito delas. Em cima da escrivaninha lápis de
todas as cores, desenhos, e três bolinhas de malabares: rosa, amarela e roxa,
que apesar do esforço ela nunca aprendeu a jogar. No guarda-roupas adesivos
colados também pela irmã mais velha sinalizando sua passagem. Ao lado da
cama rosa de metal um criado mudo que um dia teve em cima uma bíblia, uma
garrafinha de água e um leque, por que a mãe também passou por lá. A cômoda já
teve em cima um cofre que nunca ficava com dinheiro tempo suficiente para
comprar algo que não fossem balas. Um outro, de um cachorrinho que buscava a
moeda, ganhado da avó, continha umas 45 moedas de 1 centavo, dessas coleções
inúteis. Um radinho ganhado do pai que foi um dos melhores presentes já
recebidos. Um piano amarelo de criança
também compõe o mobiliário. Ao lado da cama um espelho rosa, no guarda-roupa
outro que se dividia em três.
Será que um dia
já me vi neles? Será que após tantos anos um pouco da alma foi por eles
raptada?
O quarto
acompanhou minha adolescência. Hoje quando entro é apenas um depósito com
guarda-roupa sem roupas, uma cama que não é a minha, uma bagunça que não fui eu
quem fiz e uma barata morta no chão. Nenhum dos elementos acima estão mais
nele. Desde que mamãe se foi a casa deixou de ser um lar e é apenas uma casa. A
bagunça do quarto é o resultado de algo que se perdeu, e dói se perder e ir
embora. Ter que ir embora. Hoje meu quarto é só um lugar inabitável no meio de
uma casa que é feita somente de falta dela.
O quarto que
outrora foi único e um dia também foi repartido, duas vezes repartido. Um
quarto quadrado que tivera num dia parede brancas, noutro brancas e azuis,
noutro escritos (algo de Isabel Allende) e desenhos, noutro fotos, noutro
pôsteres de atores e bandas. Um que um dia ao lado da cama da irmã tinha uma
pequena televisão e um Super Nintendo. Onde primeiro se fez a pequena coleção
de livros que hoje já é grande se não pelo número, pela preciosidade deles.
Onde nessa mesma estante colocou as miniatura raptadas da casa do avô após a sua
morte, um carro, um avião e um helicóptero. Nessa mesma estante uma aranha
também raptada de lá e um vidrinho com algo colorido que um dia ele lhe deu
dizendo ser areia. A saudade do avô também morou um pouco naquele quarto. Uma
escrivaninha antiga roída por cupins com colagens que a mãe ajudou a tirar de
revistas e livros. Não se lembra muito delas. Em cima da escrivaninha lápis de
todas as cores, desenhos, e três bolinhas de malabares: rosa, amarela e roxa,
que apesar do esforço ela nunca aprendeu a jogar. No guarda-roupas adesivos
colados também pela irmã mais velha sinalizando sua passagem. Ao lado da
cama rosa de metal um criado mudo que um dia teve em cima uma bíblia, uma
garrafinha de água e um leque, por que a mãe também passou por lá. A cômoda já
teve em cima um cofre que nunca ficava com dinheiro tempo suficiente para
comprar algo que não fossem balas. Um outro, de um cachorrinho que buscava a
moeda, ganhado da avó, continha umas 45 moedas de 1 centavo, dessas coleções
inúteis. Um radinho ganhado do pai que foi um dos melhores presentes já
recebidos. Um piano amarelo de criança
também compõe o mobiliário. Ao lado da cama um espelho rosa, no guarda-roupa
outro que se dividia em três.
Será que um dia
já me vi neles? Será que após tantos anos um pouco da alma foi por eles
raptada?
O quarto
acompanhou minha adolescência. Hoje quando entro é apenas um depósito com
guarda-roupa sem roupas, uma cama que não é a minha, uma bagunça que não fui eu
quem fiz e uma barata morta no chão. Nenhum dos elementos acima estão mais
nele. Desde que mamãe se foi a casa deixou de ser um lar e é apenas uma casa. A
bagunça do quarto é o resultado de algo que se perdeu, e dói se perder e ir
embora. Ter que ir embora. Hoje meu quarto é só um lugar inabitável no meio de
uma casa que é feita somente de falta dela.
Um comentário:
Suelen querida,quartos e lares nós fazemos e refazemos ao longo da vida. As casas que nos habitam e os quartos que somos nós são sempre a nossa alma, não importa quanto tempo eles custem ou demorem a assim se constituírem. Você fará um lar em que a sua será a presença mais importante para os que ali estiverem juntos. Num tempo que não está muito longe. Tenho certeza. [adorei o seu texto e me emocionei com ele]. abraço
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