Caio escreveu, certa vez, em pequenas epifanias,
que a perda do amor é igual a perda da morte, só que dói mais. Parece
hediondo e mesquinho pensar assim. Poucos temos coragem de assumir que é a pura
verdade. Na morte, pouco a pouco, e involuntariamente, a memória nos trai e
quando percebemos não mais nos lembramos de determinado traço da pessoa.
Esquecemos sua voz, seu cheiro. Não estou dizendo aqui que essas coisas nunca
voltem, basta pegar qualquer livro do Proust ao acaso para demonstrar em
exemplos como às vezes essas coisas voltam à “vida”. Na morte a dor é
intensa e profunda, mas é a dor de um nunca mais, nevermore. Sabemos, e nossa
mente e o nosso coração, que não encontraremos com a pessoa jamais, que ela não
esbarrará conosco em certa esquina, que ela não nos telefonará e que não
veremos fotos recentes espalhadas pela internet. Sabemos que ela está morta. Na
perda do amor, a nossa mente também sabe – embora nos traia – que a pessoa
morreu de certa forma, mas o acaso sempre está aí para brindar-nos com um
encontro nesse mundo extremamente pequeno. A perda do amor dói mais. A perda da
morte cava um buraco profundo, uma ferida aberta, mas que se sabe sem remédio.
A perda do amor deixa a ferida aberta, sempre aberta para que se aperte até que
saia mais sangue, tem remédio, mas não ao nosso alcance. A perda da morte tira
do rosto das pessoas os traços que queremos lembrar. A perda do amor está
sempre aí nos lembrando que a pessoa está viva, mas morta.
“Beatriz
Viterbo murió en 1929. [...]
Nuestra
mente es porosa para el olvido; yo mismo estoy falseando y perdiendo, bajo la
trágica erosión de los años, los rasgos de Beatriz.” (el aleph, J.L.B)
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