Acredito
que o livro, o texto, enfim, a leitura, exerça sobre nós uma espécie de
atração desconhecida. Como um Deus que trabalha na obscuridade. Não
são raros os casos em que, pouco depois de lermos algo, escutamos
referências a ele, sem que isso seja pré-programado. Ou os casos em que
entramos em bibliotecas e temos nosso olhar desviado para um livro de
nosso interesse. Ontem mesmo, por um acaso,
após fazer meu chá de hortelã – porque decide entrar de vez no mundo da
velhice precoce – retirei da estante de livros o Outras Inquisições, e
também por um acaso li o conto A muralha e os livros. O conto, de Jorge
Luis Borges, fala sobre um imperador da China que mandou construir a
Grande Muralha e queimar todos os livros escritos antes de seu reinando.
Não por acaso, pensando assim nesse caso de um Deus trabalhando na
obscuridade, esse conto é a chave fundamental para se compreender um
texto que preciso mediar amanhã, na aula de América. Se não tivesse
recordado o conto borgiano, que tirei do livro que estava na prateleira,
não compreenderia o texto – por sinal bastante complexo – da aula de
amanhã.
.
“Minha solidão se alegra com essa elegante esperança.”
(a biblioteca de babel, jorge luis borges)
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