Sempre que escrevo um poema, um poeta de verdade se remexe no túmulo, por dor ou por pena
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sábado, 10 de setembro de 2011

relicário

O sol daquele dia era o mesmo de todos os outros. A lua um dia havia lançado seu olhar benevolente sobre nós. A noite era suficientemente clara para se observar as estrelas quando sentei-me a primeira vez ao seu lado, naquele banco de praça. Estar nesse imenso mundo de pessoas que jamais se encontram faz fantasiar outro, melhor. Os mundos possíveis de Leibniz amenizam meu sofrimento, em um mundo possível serei feliz. Aos deuses do acaso não entregarei mais nenhum encontro. O relógio que até pouco tempo passava depressa marcou sua última badalada, mas nenhum outro mundo é capaz de remover essa sensação de fim. Fim de várias convicções e certezas que a pouco haviam voltado a ser. Uma ideia incoerentemente bela havia sido proposta, uma convicção foi colocada em xeque. O mundo é mais bonito no cinema, e é a vida que imita a arte e não o contrário. A recusa em tentar aceitar o que um dia todos disseram foi a premissa para inventar uma história outra. E não poderia esperar essa fuga, esse não habite-se. Encontrei a última pessoa que queria ter encontrado nessa vida. Quase um personagem literário passível de várias interpretações. Um falso poeta que não sei dizer se finge sentir que é dor a dor que deveras sente. Risco com caneta a fé do mundo. Através do seus olhos meio fechados pensei ter encontrado abrigo. Tudo não passou de um sonho. Dos dias que passaram pouco sei dizer sobre o que foi real. Não era preciso sorte, a bolinha que toca na rede e pode por um minuto fazer com que se ganhe ou perca a partida de tênis não é uma metáfora para as decisões humanas. Era preciso apenas uma escolha, apenas uma oportunidade. A sorte já havia encaminhando o começo, não se pode contar com ela para sempre. Foges assim, sem justificativas ou razões. Risco mais uma vez com caneta a fé do mundo. E digo que encontrei quem não deveria ter encontrado, porque risquei a ferro e fogo a fé no homem. De tudo sobrou a melancolia cinza fria de uma história que sequer chegou a ser. A massa cinza da cidade fria ergue-se sobre o pálido céu. Hoje vejo apenas uma figura inanimada. Parto dizendo adeus.
Acordo, tudo não passou de um sonho.


"milhões de vasos sem nenhuma flor.

o que você está dizendo?
o que você está fazendo?
por que que está fazendo assim?"

segunda-feira, 4 de julho de 2011

não sei pra quê fui cantar pra você

Poderia começar com “eu estava em paz quando você chegou”, mas sabia que isso sempre e para sempre se repetiria. E voltaria de férias, e talvez não encontrasse a casa como deixou, nem o lugar. Da janela lateral do quarto de dormir as horas não passariam como de costume, não poderia voltar atrás. Melhor encerrar qualquer possibilidade de sentimento que poderia vir a ser um sentimento outro, fora do lugar-comum, longe de qualquer razão de ser. Oh meu Deus, porque mesmo isso acontece, por quê? Poderia falar da primeira vez que viu, ou que quase não viu, se fosse para ser mais exata. Aparentemente satisfeita prometeu a si que qualquer coisa seria suficiente, esqueceu que nunca é. Nem começo de tarde, nem o dia todo seria bastante para. Não compreendia, mesmo inerte não poderia deixar de pensar. Tinha um livro, alguns textos e páginas de revista. Quando ao lado ainda é muito mais longe que qualquer lugar, ela continuava a querer um sol acima do sol. Não haveria nenhum jardim, nem flores, nem corações partidos, nem reparos. Sairia caminhando devagar, olhando a cidade, as luzes ao longe, uma canção, qualquer som que saísse de um piano e indicasse uma música que sequer saberia definir o ritmo. Pouca gente poderia entender, afinal não há tempo para isso. Daqui a pouco começaria a chover, e no apartamento vazio, aos solitários pouco resta além da solidão. Abriu uma garrafa de conhaque e voltou a fumar.



“ Não sei pra quê
Fui cantar pra você
Essa hora “

sexta-feira, 9 de julho de 2010

• Chão de giz

‘ Eu desço dessa solidão
Espalho coisas sobre
Um Chão de Giz ...
.
.
   Pra cada um dos meus homens. Uma poesia, um verso, um desenho ou o melhor de mim.
   O teu amor é uma mentira. Que a minha vaidade quer. As horas mais bem gastas, ou as horas mais bem perdidas com você. O nosso amor a gente inventa. Pra se distrair. Os meus melhores beijos. A parte mais sincera que existe em mim. Sem nenhuma falsa tentativa de ser o que não sou. Sem vergonhas, talvez. Sem escrúpulos. Te ver não é mais tão bacana. Quanto a semana passada. O nosso amor a gente inventa. Pra se distrair.
   Inamovivel. Como se apaixonar pela primeira vez. De dar frio na barriga e sei lá o que. Querer ver, estar perto. Acompanhar. I made wine from the lilac tree. Put my heart in its recipe. Pensar mais uma vez que estar junto pra sempre pode ser bom. Que não se precisa pensar em mais ninguém. Put my heart in its recipe. It makes me see what I want to see. Inalcançável.
   Os meus olhos vidram ao te ver. São dois fãs, um par. Platônico como tantos outros foram. Sem tentativas de aproximação ou falsas promessas. Sem noites de insônia. Sem querer a eternidade, sem querer que alguém saiba, apenas ter. Contradição. E eu te chamo, eu te peço: Vem! Diga que você me quer. Porque eu te quero também!
   Desculpe. Estou um pouco atrasado. Mas espero que ainda dê tempo. De dizer que andei. Errado e eu entendo. Pensar que acabou da forma mais medíocre possível. Fica só o gosto amargo daquilo que não tem nome. O ódio, o ressentimento. Da vida que foi negada, do perdão que foi negado, e das horas a sós que foram substituídas por bebedeiras com os amigos. Por onde andei? Enquanto você me procurava. E o que eu te dei? Foi muito pouco ou quase nada.
   Pra cada um dos meus homens. Uma poesia, um verso, um desenho ou o melhor de mim. Uma mulher, para cada um dos meus homens.
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... Quanto ao pano dos confetes
Já passou meu carnaval
E isso explica porque o sexo
É assunto popular ♪
....
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( Bueno, os dados estão lançados,
e agora só me resta lavar as mãos sujas
do sangue das canções )
caio fernando abreu.
..
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O nosso amor a gente inventa ♪ Cazuza
Lilac Wine ♪ Jeff Buckley
Luz dos Olhos ♪ Cássia Eller
Por onde Andei ♪ Nando Reis
Ao som de Chão de giz ♪ na voz de Oswaldo Montenegro,