Sempre que escrevo um poema, um poeta de verdade se remexe no túmulo, por dor ou por pena

segunda-feira, 4 de julho de 2011

não sei pra quê fui cantar pra você

Poderia começar com “eu estava em paz quando você chegou”, mas sabia que isso sempre e para sempre se repetiria. E voltaria de férias, e talvez não encontrasse a casa como deixou, nem o lugar. Da janela lateral do quarto de dormir as horas não passariam como de costume, não poderia voltar atrás. Melhor encerrar qualquer possibilidade de sentimento que poderia vir a ser um sentimento outro, fora do lugar-comum, longe de qualquer razão de ser. Oh meu Deus, porque mesmo isso acontece, por quê? Poderia falar da primeira vez que viu, ou que quase não viu, se fosse para ser mais exata. Aparentemente satisfeita prometeu a si que qualquer coisa seria suficiente, esqueceu que nunca é. Nem começo de tarde, nem o dia todo seria bastante para. Não compreendia, mesmo inerte não poderia deixar de pensar. Tinha um livro, alguns textos e páginas de revista. Quando ao lado ainda é muito mais longe que qualquer lugar, ela continuava a querer um sol acima do sol. Não haveria nenhum jardim, nem flores, nem corações partidos, nem reparos. Sairia caminhando devagar, olhando a cidade, as luzes ao longe, uma canção, qualquer som que saísse de um piano e indicasse uma música que sequer saberia definir o ritmo. Pouca gente poderia entender, afinal não há tempo para isso. Daqui a pouco começaria a chover, e no apartamento vazio, aos solitários pouco resta além da solidão. Abriu uma garrafa de conhaque e voltou a fumar.



“ Não sei pra quê
Fui cantar pra você
Essa hora “

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