já dizia minha vó: "Viúvo é quem morre."
mundo cão.
Sempre que escrevo um poema, um poeta de verdade se remexe no túmulo, por dor ou por pena
segunda-feira, 20 de maio de 2013
terça-feira, 30 de abril de 2013
And the Raven, never flitting, still is sitting, still is sitting
On the pallid bust of Pallas just above my chamber door;
And his eyes have all the seeming of a demon that is dreaming,
And the lamp-light o'er him streaming throws his shadow on the floor,
And my soul from out that shadow that lies floating on the floor
Shall be lifted - nevermore!
On the pallid bust of Pallas just above my chamber door;
And his eyes have all the seeming of a demon that is dreaming,
And the lamp-light o'er him streaming throws his shadow on the floor,
And my soul from out that shadow that lies floating on the floor
Shall be lifted - nevermore!
The Raven - Edgar Allan Poe.
E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
Libertar-se-á... nunca mais!
tradução por Fernando Pessoa.
N
E
V
E
R
M
O
R
E
segunda-feira, 22 de abril de 2013
Morrer é uma merda
Morrer é uma
merda. Não falo isso porque estou morta, quem dera pudesse ser Brás Cubas e
compor essas memórias do além-túmulo. Mas
quando se morre a memória fica aí e as pessoas fazem dela o que quiser. É um
eterno falar pelas costas. Espero que do céu ou do inferno as orelhas não
queimem, não devem, assim como a mão não deve coçar indicando dinheiro. Morrer
deve ser realmente uma merda, mas merda pior ainda é continuar vivo e ver o eterno falar pelas costas, e não
as nossas. Tenho usado muito a palavra merda, mas não se assuste caro leitor,
ainda é menos impactante que desgraça, embora desgraça reflita melhor a atual
situação. Nunca pensei que merda poderia ser uma palavra usada quase como
eufemismo. Tenho perdido bastante tempo revisando os últimos acontecimentos,
encaixando fatos, reclassificando frases a esmo. Cada dia é uma descoberta nova
e estúpida. Não sei quando isso vai parar. Logo eu, essa pessoa, que se pudesse
deixava a vida sempre como está.
Agora tenho que
conviver com a eterna desgraça de só saber a versão do Dom Casmurro.
domingo, 21 de abril de 2013
o amor e a morte
Caio escreveu, certa vez, em pequenas epifanias,
que a perda do amor é igual a perda da morte, só que dói mais. Parece
hediondo e mesquinho pensar assim. Poucos temos coragem de assumir que é a pura
verdade. Na morte, pouco a pouco, e involuntariamente, a memória nos trai e
quando percebemos não mais nos lembramos de determinado traço da pessoa.
Esquecemos sua voz, seu cheiro. Não estou dizendo aqui que essas coisas nunca
voltem, basta pegar qualquer livro do Proust ao acaso para demonstrar em
exemplos como às vezes essas coisas voltam à “vida”. Na morte a dor é
intensa e profunda, mas é a dor de um nunca mais, nevermore. Sabemos, e nossa
mente e o nosso coração, que não encontraremos com a pessoa jamais, que ela não
esbarrará conosco em certa esquina, que ela não nos telefonará e que não
veremos fotos recentes espalhadas pela internet. Sabemos que ela está morta. Na
perda do amor, a nossa mente também sabe – embora nos traia – que a pessoa
morreu de certa forma, mas o acaso sempre está aí para brindar-nos com um
encontro nesse mundo extremamente pequeno. A perda do amor dói mais. A perda da
morte cava um buraco profundo, uma ferida aberta, mas que se sabe sem remédio.
A perda do amor deixa a ferida aberta, sempre aberta para que se aperte até que
saia mais sangue, tem remédio, mas não ao nosso alcance. A perda da morte tira
do rosto das pessoas os traços que queremos lembrar. A perda do amor está
sempre aí nos lembrando que a pessoa está viva, mas morta.
“Beatriz
Viterbo murió en 1929. [...]
Nuestra
mente es porosa para el olvido; yo mismo estoy falseando y perdiendo, bajo la
trágica erosión de los años, los rasgos de Beatriz.” (el aleph, J.L.B)
terça-feira, 2 de abril de 2013
sábado, 23 de março de 2013
O quarto
O quarto que
outrora foi único e um dia também foi repartido, duas vezes repartido. Um
quarto quadrado que tivera num dia parede brancas, noutro brancas e azuis,
noutro escritos (algo de Isabel Allende) e desenhos, noutro fotos, noutro
pôsteres de atores e bandas. Um que um dia ao lado da cama da irmã tinha uma
pequena televisão e um Super Nintendo. Onde primeiro se fez a pequena coleção
de livros que hoje já é grande se não pelo número, pela preciosidade deles.
Onde nessa mesma estante colocou as miniatura raptadas da casa do avô após a sua
morte, um carro, um avião e um helicóptero. Nessa mesma estante uma aranha
também raptada de lá e um vidrinho com algo colorido que um dia ele lhe deu
dizendo ser areia. A saudade do avô também morou um pouco naquele quarto. Uma
escrivaninha antiga roída por cupins com colagens que a mãe ajudou a tirar de
revistas e livros. Não se lembra muito delas. Em cima da escrivaninha lápis de
todas as cores, desenhos, e três bolinhas de malabares: rosa, amarela e roxa,
que apesar do esforço ela nunca aprendeu a jogar. No guarda-roupas adesivos
colados também pela irmã mais velha sinalizando sua passagem. Ao lado da
cama rosa de metal um criado mudo que um dia teve em cima uma bíblia, uma
garrafinha de água e um leque, por que a mãe também passou por lá. A cômoda já
teve em cima um cofre que nunca ficava com dinheiro tempo suficiente para
comprar algo que não fossem balas. Um outro, de um cachorrinho que buscava a
moeda, ganhado da avó, continha umas 45 moedas de 1 centavo, dessas coleções
inúteis. Um radinho ganhado do pai que foi um dos melhores presentes já
recebidos. Um piano amarelo de criança
também compõe o mobiliário. Ao lado da cama um espelho rosa, no guarda-roupa
outro que se dividia em três.
Será que um dia
já me vi neles? Será que após tantos anos um pouco da alma foi por eles
raptada?
O quarto
acompanhou minha adolescência. Hoje quando entro é apenas um depósito com
guarda-roupa sem roupas, uma cama que não é a minha, uma bagunça que não fui eu
quem fiz e uma barata morta no chão. Nenhum dos elementos acima estão mais
nele. Desde que mamãe se foi a casa deixou de ser um lar e é apenas uma casa. A
bagunça do quarto é o resultado de algo que se perdeu, e dói se perder e ir
embora. Ter que ir embora. Hoje meu quarto é só um lugar inabitável no meio de
uma casa que é feita somente de falta dela.
O quarto que
outrora foi único e um dia também foi repartido, duas vezes repartido. Um
quarto quadrado que tivera num dia parede brancas, noutro brancas e azuis,
noutro escritos (algo de Isabel Allende) e desenhos, noutro fotos, noutro
pôsteres de atores e bandas. Um que um dia ao lado da cama da irmã tinha uma
pequena televisão e um Super Nintendo. Onde primeiro se fez a pequena coleção
de livros que hoje já é grande se não pelo número, pela preciosidade deles.
Onde nessa mesma estante colocou as miniatura raptadas da casa do avô após a sua
morte, um carro, um avião e um helicóptero. Nessa mesma estante uma aranha
também raptada de lá e um vidrinho com algo colorido que um dia ele lhe deu
dizendo ser areia. A saudade do avô também morou um pouco naquele quarto. Uma
escrivaninha antiga roída por cupins com colagens que a mãe ajudou a tirar de
revistas e livros. Não se lembra muito delas. Em cima da escrivaninha lápis de
todas as cores, desenhos, e três bolinhas de malabares: rosa, amarela e roxa,
que apesar do esforço ela nunca aprendeu a jogar. No guarda-roupas adesivos
colados também pela irmã mais velha sinalizando sua passagem. Ao lado da
cama rosa de metal um criado mudo que um dia teve em cima uma bíblia, uma
garrafinha de água e um leque, por que a mãe também passou por lá. A cômoda já
teve em cima um cofre que nunca ficava com dinheiro tempo suficiente para
comprar algo que não fossem balas. Um outro, de um cachorrinho que buscava a
moeda, ganhado da avó, continha umas 45 moedas de 1 centavo, dessas coleções
inúteis. Um radinho ganhado do pai que foi um dos melhores presentes já
recebidos. Um piano amarelo de criança
também compõe o mobiliário. Ao lado da cama um espelho rosa, no guarda-roupa
outro que se dividia em três.
Será que um dia
já me vi neles? Será que após tantos anos um pouco da alma foi por eles
raptada?
O quarto
acompanhou minha adolescência. Hoje quando entro é apenas um depósito com
guarda-roupa sem roupas, uma cama que não é a minha, uma bagunça que não fui eu
quem fiz e uma barata morta no chão. Nenhum dos elementos acima estão mais
nele. Desde que mamãe se foi a casa deixou de ser um lar e é apenas uma casa. A
bagunça do quarto é o resultado de algo que se perdeu, e dói se perder e ir
embora. Ter que ir embora. Hoje meu quarto é só um lugar inabitável no meio de
uma casa que é feita somente de falta dela.
sábado, 29 de dezembro de 2012
na corda bamba de sombrinha!
A esperança
dança na corda bamba de sombrinha! E foi no passo dessa linha que decidi fazer
essa postagem... Promessas de ano novo são sempre legais de se fazer, mesmo que
não se cumpra uma porrada delas. Gente, a vida taí, e se a gente nem finge que
vai fazer alguma coisa, há de se fazer o quê? Não tô querendo muita coisa pro
ano que vem não! Só uma vida dessas de filme, o dedo em v, cabelo ao vento, amor e flor, quero cartaz (loucura,
chiclete e som). Teve coisa boa no ano que passou, teve sim, mas também
muita gente que precisei deixar pra trás! Sem rancor, Brow, você continua sendo
o cara que me apresentou uma pancada de coisas que vou levar pra vida, só temos
uma foto, e se eu te esquecer é porque não é importante mais, não era esse o
lema? Mas você foi importante, foi o meu amor de uma longa estação! Hoje é só
uma lembrança que morre na virada do ano, ou talvez não. Então nesse ano, só tô
pedindo mais um pouco de amizades que mesmo que termine em menos de um ano,
deixe um pouquinho em mim e eu um pouquinho nelas. Borges certa vez disse, que
a amizade, ao contrário do amor, não precisa de ligar, ficar perto, e nem de
ciúmes, amigo não precisa de cobrança e depois de muito tempo a gente liga e
sente o mesmo carinho igual. Só hoje entendi essas coisas. Por isso só peço que os meus novos amigos e os
meus velhos amigos, e mesmo os que não podem ou não querem mais ser meus
amigos, pensem que daqui um tempão a gente possa ter o mesmo carinho igual.
Pra viver nessa corda bamba e de sombrinha! Pra ver que pode ser infinito enquanto
durar, como compôs Vinicius.
e
em cada passo dessa linha pode se machucar.
Azar!
Azar!
sexta-feira, 2 de novembro de 2012
pra me manter acordado
Passou do dia, da
hora, do minuto. Passou sem que devesse passar. Nesses momentos vagos sobram
sempre os pensamentos lamuriosos. Uma exaustão do
que estava jurado de esquecimento. Passou sem que devesse passar. A
lágrima escondida, a vontade reprimida. Perceptível a minha não reação para que
a reação se tenha, perceptível e ninguém percebe. Os livros na estante vão
pegando poeira, empoeirando também se vai o meu bom senso. Há um pouco de
preguiça aqui. Paro nos cantos de corações apertados, onde andará o amor?
Nesse estranho
desejo de querer, qualquer coisa. Nesse desejo de ser querido, por qualquer um.
Mal imaginam o esforço para ficar por aqui. Um cotidiano que se tornou
enfadonho. Paro nos cantos de corações apertados, pra que servem os amigos se
não os tenho? Preciso parar de escolher as pessoas, preciso parar de enjoar
delas. E
estamos nos ilhando. Vazio.
Descrente de algo
que possa repelir o caos, mas ainda esperando a sua resposta.
Passou sem que
devesse passar.
Sinto saudades, não
é de você, mas ainda não sei do que. Continuo com jus as minhas juras.
“Eu brindo meu encontro com café pra
me manter acordado”
victor moraes
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