Sempre que escrevo um poema, um poeta de verdade se remexe no túmulo, por dor ou por pena

sábado, 24 de julho de 2010

• o Rio de Janeiro continua lindo '

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....Não sabia dizer ao certo quanto tempo havia se passado desde a sua partida. Meses, anos, ou até mesmo horas, não saberia dizer. Lá fora o dia passava como de costume. Ao som do LP do Chico desenhava uma nova trilha sonora, que somava-se a tantas outras. O que começou a acontecer depois de todo um ciclo, é que novas imagens somavam-se as antigas. Conceitos deixavam de fazer sentido, e sentimentos escondidos não teriam mais motivos para existir. A vida seguia, sem mais agitações. Sem dúvidas ou receios. Futuros amantes, quiçá ...
....Uma volta pela cidade. Uma parada. Conversas jogadas fora e histórias ou estórias para a vida inteira. E completava-se assim. Sem pressas ou urgências. E quem sabe, então. O Rio será alguma cidade submersa ...
....Um pouco depois desses dias, algo fugiu do seu controle. O afeto batera na porta novamente e sabia que não estaria pronta para enlouquecer de amor. Não se afobe, não. Que nada é pra já. O amor não tem pressa. E veio a fuga. A indiferença. Fadados ao fracasso. Obviamente. Não se afobe, não. Que nada é pra já. Amores serão sempre amáveis ...
....Levantou-se e foi até a mesa pegar uma dose de conhaque, outra. Voltou o LP para a mesma música. O que fez com que lembrasse de outra. Repetindo, repetindo, repetindo como num disco riscado. O velho texto batido, dos amantes mal amados. Começara a chover e a chuva quase sempre trazia a melancolia. Mas não dessa vez. Acostumara-se a vida e as reviravoltas que ela dava. Tornara-se forte como nunca fora. Incapaz de sentimentos vãos.
....Futuros amantes, quiçá. Se amarão sem saber. Com o amor que eu um dia. Deixei pra você .
Recordou antigos amores e até mesmo flash-back’s imaginários. Longas vertigens noturnas. Horas gastas pensando no que dizer, ensaiando. Dias de felicidade contida e mal humor inventado.
....Nenhum sentimento, decidiu. E virou a garrafa outra vez no copo.
....Alguns minutos se passaram, e o sentimento de nostalgia foi interrompido por outro som que se misturava ao de música que invadia a casa.
....O telefone tocou duas vezes até que ela decidisse atender...

- Alô ?
- Alô
- Quem é?
- Sou eu
- Você?
- Não acredito que já esqueceu a minha voz.
- Não, nunca.
- Tá tudo bem ?
- Tá sim...
- Que bom.
- Estava pensando em você agora.
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o Rio de Janeiro continua lindo ♪
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* itálico - Futuros amantes - chico buarque

segunda-feira, 12 de julho de 2010

• you are the only exception

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And I've always lived like this
Keeping a comfortable, distance…
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Tempo. Tempo. Tempo. Por trás daquele peito também batia um coração. E tanto tempo havia se passado desde que permitira sentir... Por trás da mascara o sorriso escondia a melancolia, fria. A saudade de ter a quem amar. Tinha medo de dia após dia, não ser mais o que era preciso ser. Perder-se. Estaria completamente cega sobre as coisas mundanas. E sobre as coisas de amor e de morte.Só nos filmes as pessoas são felizes no final. Na novela. Real life é outra história. História. HST.

Então numa manhã de inverno você aparece e me convida para sair. Quando o medo de estar para sempre só aumenta e sei que te seguiria assim, sem hesitar.
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… And up until now I swored to myself
That I'm content with loneliness,
'Cause none of it was ever worth the risk.
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But you are the only exception

sábado, 10 de julho de 2010

• amado '

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Como pode ser gostar de alguém
E esse tal alguém não ser seu ...
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Ainda que não houvesse sol o dia estava com o colorido diferente. Colorido? Preto e branco, preto e branco, branco preto. Seria noite? A janela no quarto não poderia dizer que horas eram. Escuro. Como o coração a pouco ficara. As coisas não se moviam, as horas menos. De qualquer forma sabia que não iria vê-lo. Aliás, isso por um mês, ou mais. O telefone não tocaria. Ela mal sabia o seu nome. As coisas de fora não tinham um movimento especial, mas as de dentro (re)surgiam. Droga. Mais uma vez. Já não tinha poder algum. Não poderia recuar nem desviar o caminho. Um palpitar mais acelerado do coração quando ele passa. elE vem, e ninguém mais belO vem em minha direção... Quem sabe amor, batera na porta novamente. Encanto. O mundo mais colorido com o sorriso dele. Daqueles sorrisos de querer se ver toda manhã, ou noite. Tinha uma vaga lembrança de tê-lo visto dois ou três anos atrás. Não sabia se era uma invenção da memória, ou uma projeção de alguém que de fato queria ter notado nesses dois ou três anos atrás. Num evento especial. Esboçou no ar uma tentaiva de aproximação. Impossível. Seria demais, até para ela. Perdera o jeito com conquistas ou talvez nunca o tivera.
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... Mas pode sim
Ser sim amado e tudo acontecer
Quero dançar com você
Dançar com você ♪
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( Não posso esperar.
Tenho a mesa posta, toalhas brancas, ombros moles
e uma alma que só saber viver presentes. )
caio fernando abreu.
itálico: pequena modificação em 'na estrada' de marisa monte

sexta-feira, 9 de julho de 2010

• Chão de giz

‘ Eu desço dessa solidão
Espalho coisas sobre
Um Chão de Giz ...
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   Pra cada um dos meus homens. Uma poesia, um verso, um desenho ou o melhor de mim.
   O teu amor é uma mentira. Que a minha vaidade quer. As horas mais bem gastas, ou as horas mais bem perdidas com você. O nosso amor a gente inventa. Pra se distrair. Os meus melhores beijos. A parte mais sincera que existe em mim. Sem nenhuma falsa tentativa de ser o que não sou. Sem vergonhas, talvez. Sem escrúpulos. Te ver não é mais tão bacana. Quanto a semana passada. O nosso amor a gente inventa. Pra se distrair.
   Inamovivel. Como se apaixonar pela primeira vez. De dar frio na barriga e sei lá o que. Querer ver, estar perto. Acompanhar. I made wine from the lilac tree. Put my heart in its recipe. Pensar mais uma vez que estar junto pra sempre pode ser bom. Que não se precisa pensar em mais ninguém. Put my heart in its recipe. It makes me see what I want to see. Inalcançável.
   Os meus olhos vidram ao te ver. São dois fãs, um par. Platônico como tantos outros foram. Sem tentativas de aproximação ou falsas promessas. Sem noites de insônia. Sem querer a eternidade, sem querer que alguém saiba, apenas ter. Contradição. E eu te chamo, eu te peço: Vem! Diga que você me quer. Porque eu te quero também!
   Desculpe. Estou um pouco atrasado. Mas espero que ainda dê tempo. De dizer que andei. Errado e eu entendo. Pensar que acabou da forma mais medíocre possível. Fica só o gosto amargo daquilo que não tem nome. O ódio, o ressentimento. Da vida que foi negada, do perdão que foi negado, e das horas a sós que foram substituídas por bebedeiras com os amigos. Por onde andei? Enquanto você me procurava. E o que eu te dei? Foi muito pouco ou quase nada.
   Pra cada um dos meus homens. Uma poesia, um verso, um desenho ou o melhor de mim. Uma mulher, para cada um dos meus homens.
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... Quanto ao pano dos confetes
Já passou meu carnaval
E isso explica porque o sexo
É assunto popular ♪
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( Bueno, os dados estão lançados,
e agora só me resta lavar as mãos sujas
do sangue das canções )
caio fernando abreu.
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O nosso amor a gente inventa ♪ Cazuza
Lilac Wine ♪ Jeff Buckley
Luz dos Olhos ♪ Cássia Eller
Por onde Andei ♪ Nando Reis
Ao som de Chão de giz ♪ na voz de Oswaldo Montenegro,

sexta-feira, 4 de junho de 2010

- o mundo é um moinho

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Ainda é cedo amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora da partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar

Ouça-me bem amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões à pó. ♪
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Não queria de forma alguma pensar em tudo isso de novo, fazia mal. Reviver momentos na memória. Inútil qualquer tentativa de aproximação. Partiu irremediavelmente. E ainda que tenha aceito isso como nova forma de vida, queria às vezes pensar no que poderia acontecer se não houvesse acontecido o toque dos corpos, das almas. Por um minuto. Ainda que falsamente. Utópico demais, pensar no que poderia ter sido e não foi. Às vezes a espera de uma carta ou um telegrama. Passa rápido. Passa rápido porque agora outro ser se misturava ao dela. Carne, corpo, alma, pensamento. Tudo. Idiota quem disse que não se esquece uma pessoa com outra. Esquece sim, esquece e passa. Fica só o gosto amargo daquilo que não tem nome. O ódio, o ressentimento. Da vida que foi negada, do perdão que foi negado, e das horas a sós que foram substituídas por bebedeiras com os amigos. Fácil era dizer agora que ela não o conquistara. Muito fácil, limpar o porão sujo agora que todos os móveis e entulhos foram retirados. Depois que a grande decisão foi tomada pelo dono da relação. Grande decisão? É, você pode definir também como seqüência de acontecimentos estranhos e desmedidos. Mas, será por quê? Não importava agora né, agora que...


Que imensa miséria o grande amor - depois do não, depois do fim - reduzir-se a duas ou três frases frias ou sarcásticas. Num bar qualquer, numa esquina da vida"
caio fernando abreu

quinta-feira, 3 de junho de 2010

• @beatlesfrases: The way you deceive me, I just don't understand

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   Há muitas outras coisas que se poderia dizer sobre esse homem nesta noite turva, em que sento-me para escrever ao lado de uma garrafa de alguma coisa com teor alcoólico e um cinzeiro em que deposito as cinzas do meu Lucky Strike, o maço quase no fim.
   Que ele era legal, que era elegante e charmoso seria o mais clichê a que se poderia chegar, depois de tanto tempo. Que entendia sobre todos os assuntos e que era a pessoa mais especial these whole world... Que teria a mulher que quisesse quando quisesse, retórico demais.
   Uma coisa que não consegui dar nome, e que por mais que tente não compreendo muito bem, e entendo. Entendo por ora, antes de me ater aos detalhes e chegar a (in)conclusão de que não faz sentido nenhum. E pensei, durante certo tempo, que o que mais se poderia tirar dessa história toda - talvez inventada, talvez fantasiada para tornar-se nos mínimos detalhes real – era o significado. Hoje pressinto que é o que mais falta. Em forma de interrogações, tento decifrar esse nó que me atrela a tudo isso. Acendo mais um cigarro.
   Gastei quase todas as minhas fichas tentando apostar em uma teoria que pudesse chegar o mais perto possível do real. Percebo agora que não existe real. Tudo é irreal e atrelado ao fato de tentar inutilmente viver. Viver e ser lembrado, viver e ser esquecido. Amar até a última gota do ser. Consumir-se um no outro, noutro. Várias e várias vezes. Na esperança quem sabe de achar algo que faça parar, ficar para sempre. Sem mentiras, sem vergonhas, sem histórias mal contadas e passados que teimam em aparecer no presente. Utopia.
   Outros são os caminhos e sabe-se que na esquina de cada um deles há outras e outras mulheres. Com histórias que talvez pudessem fazer diferença na vida de alguém. Mas elas são de ninguém. E talvez ele seja assim.
   Acendo outro e outro cigarro. A vida é o que é, e as pessoas são o que são, mesmo pra quem vê de longe. People don't change !
   Há muitas outras coisas que se poderia dizer sobre esse homem nesta noite turva. Que ele era quase perfeito, e que só existia um defeito, mas era esse defeito que fazia com que se desacreditasse de todas as qualidades até então existentes. Poderia terminar o texto com uma música, mais ou menos assim: Te pego na escola e encho a tua bola com todo o meu amor. Te levo pra festa e testo o teu sexo com ar de professor. Faço promessas malucas tão curtas quanto um sonho bom. Se eu te escondo a verdade, baby, é pra te proteger da solidão. ♪ Mas agora e para sempre, o show não era interessante e ela não era o seu amor. Então termina-se assim, sem solos de violão ou piano. Talvez, um tango argentino, pena eu não conhecer nenhum. Poderia procurar algo aceitável aqui; mas acabaram os cigarros e o álcool está quase no fim.
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“São aqueles que vêm do nada
e partem para lugar nenhum.
Alguém que aparece de repente,
que ninguém sabe de onde veio nem para onde vai
A man out of nowhere.”


(Nelson Brissac Peixoto: Cenários em Ruínas)
citado no conto VI : O Rapaz mais triste do mundo
de Os Dragões não conhecem o Paraíso - Caio Fernando Abreu.
* negrito - O rapaz mais triste do mundo ...
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sábado, 22 de maio de 2010

• procura-se

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Procura-se alguém que tenha mais de 20 anos, seja legal e atraente. Procura-se alguém que goste do frio e de música popular brasileira. Procura-se alguém que queira viajar, às vezes. Procura-se alguém que goste de praia e mar, e que saiba surfar. Procura-se alguém que saiba falar sobre política, esportes e nada. Procura-se alguém que entenda sobre metafísica. Procura-se alguém que saiba se vestir e andar. Procura-se alguém que seja educado e que policie os meus palavrões. Procura-se alguém que não tenha medo de mudar e que fique jovem para sempre. Procura-se alguém que não goste de azeitonas verdes. Procura-se alguém que deixe de sair às vezes porque precisa estudar. Procura-se alguém que goste de filmes e HQ’s. Procura-se alguém que goste de futebol e que não torça por time nenhum. Procura-se alguém que tenha muitas histórias para contar. Procura-se alguém que minta só para me dar o prazer de descobrir. Procura-se alguém que seja engraçado, até sem querer. Procura-se alguém que saiba todas as letras do Beatles de cor. Procura-se alguém que ame coca-cola. Procura-se alguém que goste de Petit Gateau. Procura-se alguém que aprecie o por-do-dol. Procura-se alguém que deteste música sertaneja. Procura-se alguém que acredite em super heróis. Procura-se alguém que acredite no amor. Procura se alguém.
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" neste momento vem-me uma vaga saudade
e um vago desejo plácido
que aparece e desaparece "
fernando pessoa.

sábado, 15 de maio de 2010

• mais feliz

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Parar, às vezes é ainda estar em movimento. Encantar-se novamente, como se ainda fosse possível, como tudo o é. Rimas fáceis, calafrios. Fura o dedo, faz um pacto comigo. Dar a volta ao mundo ou ir ao centro da Terra, não importa. Por um segundo teu no meu. Com a prática de ser amado talvez nada mais fosse surpreendente, ou talvez fosse até demais. Um pouco inquieto o amor dava sinais até então escondidos, camuflados. Pairando entontecido sobre várias histórias de amor e des. Quem nunca se perdeu não entenderia que esta era uma perca desejável. Uma espera. Por um segundo mais feliz.
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" Nada se sabe, tudo se imagina
Circunda-te de rosas, ama, bebe
E cala. O mais é nada "
fernando pessoa.
* itálico. Mais feliz ♪ Adriana Calcanhoto

sexta-feira, 14 de maio de 2010

• romance ideal

Um dia, como outro qualquer. A possibilidade de algo havia me aparecido novamente. Tarde demais pra voltar atrás. Tarde para esquecer quem eu fui, ou era, não importa. Ela é só uma menina e eu pagava pelos erros que eu nem sei se eu cometi. O mundo dá voltas e voltas e às vezes acaba parando no mesmo lugar. Nada é estático e ainda assim determinadas coisas marcam para sempre, e sempre. Não se anula passados mas constrói-se presentes. E o presente poderia ser tão bom.


Não pedi que ela ficasse
Ela sabe que na volta
Eu ainda vou estar aqui.

Se eu queria enlouquecer, esse é o romance ideal
É tudo que eu quis! ♪

terça-feira, 11 de maio de 2010

• sozinho '

- Decidiu me ignorar para sempre?
- Você sabe que isso não é verdade.
- Eu não sei o que é ou não verdade, sei do que estou vendo. E no momento não tenho visto nada. É assim que a gente vai se levar a sério?
- ...
- Não estou te pedindo em casamento. Não sei se é pra sempre e nem sei o que eu sinto. Mas gosto de falar com você e gostaria que você também pensasse o mesmo. Não estou dizendo que quero ser mais do que sua amiga. Não se preocupe.
- E você quer ser mais que isso?
- O que você quer?
- Depende do que você quiser.
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♪ não sou nem quero ser o seu dono
é que um carinho às vezes cai bem
eu tenho meus desejos e planos secretos
só abro pra você mais ninguém
por que você me esquece e some ? ♪