Sempre que escrevo um poema, um poeta de verdade se remexe no túmulo, por dor ou por pena

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

• a palo seco

Aquela coisa meio que estática, meio que vai sem querer ir. E estamos quase em setembro, é setembro o mês dos amores? Não saberia dizer. Supondo um conhecimento prévio sobre mortes de coração - é, mortes de coração ela quis dizer – resolveu escrever. Infelizmente nada sairia da cabeça para o papel. Por trás do que as pessoas falam falta muita coisa, pensou. Por tudo isso, infelizmente não poderia escrever. Meu amor, que saudade. Nesse silêncio que antes certamente era o anterior a noites de amor, ficou por um minuto. Nada diz, nada escreves. Anjos e demônios têm ocupado os seus pensamentos há tempos. Se recusava a pensar em demônios quando na verdade tinha medo que um a habitasse. Enquanto os anjos apenas inventavam uma nova dança, ao longe. Como um palhaço que sem a maquiagem talvez esqueça quem é, ela seguia. Se soubesse tocar e compor certamente o faria. E pensou nas estrelas e em como elas viviam a milhas e milhas de distância. E até lembrou-se de um poema do Quintana. E pensou nos desencontros e desamores. Não que estivesse triste, só não sabia mais o que estava sentindo. E por muito tempo isso. Ascendeu um cigarro e na fumaça anjos ou demônios a perturbaram novamente. E pensou “Como eu queria que você estivesse aqui agora”. E repetiu em voz alta. E repetiu na intenção de que ele a ouvisse. Talvez se visse uma estrela cadente, infantil ou acreditando em uma verdade cósmica qualquer, faria um pedido. Grafites em papel não traduziriam. Olhou para o telefone na esperança que ele tocasse. E sabia que não tocava há muito tempo, e nem tocaria. Ascendeu outro cigarro, sabia que se continuasse assim perderia o pulmão em breve. Mas pensar em morte era demais para quem esperava uma vida cheia de prazeres. Prazeres que ela se abstinha de ter, até então. São os anjos – pensou. E tudo isso ia passando pela sua cabeça, sem que soubesse como codificar.



Tenho 25 anos de sonho e de sangue
E de América do Sul
Mas por força do meu destino
Um tango argentino
Me cai bem melhor que o blues

domingo, 15 de agosto de 2010

• desde o primeiro dia

Eu só quero um tema pra viver
Versos de um poema pra dizer
Que eu te aceito assim

O que eu sei é que jamais vou te esquecer
Eu me agarro nessas fantasias pra sobreviver
Eu não sei se estou vivendo de emoção
Mas invento você todo dia pro meu coração


......Abro a mala, aquela onde estão todas as fantasias e desejos. Você ainda está lá, talvez fique por muito tempo. Não sei. Nunca fui uma pessoa muito óbvia, de qualquer modo. Sei lá, você fez parte de uma fase muito minha, entende. Muito minha sem ser eu. Meio complicado de se dizer.
......Sabe, posso te confessar agora, que desde o primeiro dia em que te vi, eu te segui com o olhar. É sim, que nem aquela música do Chico Pinheiro mesmo. Fui atrás dos seus passos, do seu rastro no ar. E todo resto. Hoje fica a parte de acordar com frio em um quarto vazio. Um quarto que de fato você nunca esteve.
......Como você sabe, não fui o que deveria ser e nem me esforcei para isso. Enquanto você desdobrava afeto. Não sei dizer o que aconteceu. Às vezes te olhava com olhos vazios que não eram meus, e rejeitava o seu toque quando o que mais queria era ser sua. Sério que não sei dizer o que aconteceu. No silêncio que acontecia quando me perguntava sobre algo queria dizer muitas coisas. Muito mais que com amor, eu te sentia, de um estranho modo mas sentia.
......Se o tivesse assim, você nunca suspeitaria do quanto era intenso.
......Passou-se muito tempo até perceber de fato que te queria. Que queria meio que pra sempre sabe. De qualquer modo, a qualquer hora.
......Por favor, quando sair feche a porta. Não quero que a brisa me encontre de novo.


Deixe saudade e nada mais
Por que é que os corações não são iguais
Diga que um dia vai voltar
Pra que eu passe minha vida inteira me enganando

Diga que um dia vai voltar
Pra que eu passe minha vida inteira te esperando ♪

sábado, 7 de agosto de 2010

• minha loucura

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Eu pensei que fosse o tempo de achar agora todas as provas
Dentro das últimas horas que me restam desse dia
No centro desse quadrado desse apartamento

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Não estou esperando por ela. Nem por ela e nem por ninguém que me faça sair desse estado o qual encontro. Tá bom assim. Relaxa baby, e flui. Barquinho na correnteza: Deus dará. Como diria o Caio.
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Viajei, não me contento
De me satisfazer com o que é visível
Aí invento uma verdade pra suprir a vaidade
Mas a minha mocidade me faz sofrer
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Sem falsas esperanças ou falsas promessas. Sem suspiros porque não há o que lamentar. Eu sei que você não me entende. Mas é bem assim mesmo. Um não entende o outro e assim vamos nós. Mais fácil viver, saca?! Tem uns cacos de vidro no chão, por todo apartamento. Vou deixar eles por aí mesmo. Consertar da trabalho demais, e não sei se quero. Prefiro ficar por aí, com as feridantiga. As mesmas de sempre. Não precisa dizer nada, isso nunca muda. Ninguém diminui a dor de ninguém. Cada um aprende a viver com ela, ou não. Eu mesmo, já aprendi. Sabe, eu pensei, tenho poucos anos. Muitos prazeres pela frente. Não to querendo me prender a ninguém mais.
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Sim, procurei pela pessoa
Que infernizava os meus neurônios à noite
Mas quando encontrei, pro meu espanto
Aquele cara era eu!
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Não me pergunte como ou porque. Já disse, é assim mesmo. Não importa, talvez a gente se encontre, talvez não. No momento é mais fácil se perder, perder-se. Não sei quanto tempo demora pra isso. Se vale a pena? Não, não venha com história de alma pequena. Acho isso uma chatisse.
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Me enfurnei naquele canto
À procura de uma nova armadura
Pra esconder minha candura, minha paz,
Minha loucura e aproveito enquanto dura
Para ouvir umas ranhuras de tom zé ♪
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quarta-feira, 4 de agosto de 2010

• fix you

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When you lose something you can't replace
When you love someone, but it goes to waste
Could it be worse? ♪

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......Em um bar, se encontraram novamente. Estranho, pois hoje não lembraria sequer que roupa ela usava, logo ele, sempre tão detalhista. Estava linda, como sempre fora, só isso poderia dizer. Há algum tempo haviam se apaixonado , mas tantos desencontros acabaram levando a lugar nenhum. Costumavam se encontar aos sábados, às vezes domingo; não mais que isso, exceto quado por acaso se encontravam na biblioteca, e era tão frequente. Ela que não tinha nada mais a perder, já que sabia que o outro nunca voltaria e que não precisava mais esconder desejos, não desviou o olhar quando ele a encarou. Ao contrário, foi até ele. O que se seguiu a isso, foram alguns minutos de conversas inúteis, de quanto-tempo- como-você-está-estou-bem-obrigada. Não era isso que ela queria. Não disse mais nada, apenas o beijou. Um beijo não de carinho ou afeto. Pela primeira vez não sentiu vergonha de ser lasciva.
........Tirou um cigarro da bolsa.
– Não sabia que você fumava...
- Faz uns dois anos já, mas não é muito, se é que faz diferença.
- Não, não faz.
- Que seja.
[...]
- Posso comentar sobre seu cabelo?
- Não, mas eu posso comentar sobre o seu. Ficou ótimo.
- É, eu sei, todo aquele blá blá blá que cabelo curto é mais sensual. Se bem que pra você não faz diferença né.
- Não é assim...
- Claro que é.
.......Um amigo começou a conversar com ele, e ela aproveitou o momento para pegar mais uma bebida. Por um instante exitou, mas depois retirou uma caneta da bolsa e escreveu em um papel “ ... e o que antes importava já não importa mais. Espero que não tenha nenhum compromisso quando sair daqui ...”. Acendeu mais um cigarro, deixou o bilhete sobre o balcão e saiu. Sabia que se ele ainda quisesse, o encontraria no bar.
.......Alguns minutos depois, decidiu voltar para perto do balcão. E lá estava ele, olhando-a daquele jeito que nunca mudara e que ela sabia que não mudaria. Ao som de uma música conhecida saíram do bar.
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Lights will guide you home
And ignite your bones
And I will try, to fix you

sábado, 24 de julho de 2010

• o Rio de Janeiro continua lindo '

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....Não sabia dizer ao certo quanto tempo havia se passado desde a sua partida. Meses, anos, ou até mesmo horas, não saberia dizer. Lá fora o dia passava como de costume. Ao som do LP do Chico desenhava uma nova trilha sonora, que somava-se a tantas outras. O que começou a acontecer depois de todo um ciclo, é que novas imagens somavam-se as antigas. Conceitos deixavam de fazer sentido, e sentimentos escondidos não teriam mais motivos para existir. A vida seguia, sem mais agitações. Sem dúvidas ou receios. Futuros amantes, quiçá ...
....Uma volta pela cidade. Uma parada. Conversas jogadas fora e histórias ou estórias para a vida inteira. E completava-se assim. Sem pressas ou urgências. E quem sabe, então. O Rio será alguma cidade submersa ...
....Um pouco depois desses dias, algo fugiu do seu controle. O afeto batera na porta novamente e sabia que não estaria pronta para enlouquecer de amor. Não se afobe, não. Que nada é pra já. O amor não tem pressa. E veio a fuga. A indiferença. Fadados ao fracasso. Obviamente. Não se afobe, não. Que nada é pra já. Amores serão sempre amáveis ...
....Levantou-se e foi até a mesa pegar uma dose de conhaque, outra. Voltou o LP para a mesma música. O que fez com que lembrasse de outra. Repetindo, repetindo, repetindo como num disco riscado. O velho texto batido, dos amantes mal amados. Começara a chover e a chuva quase sempre trazia a melancolia. Mas não dessa vez. Acostumara-se a vida e as reviravoltas que ela dava. Tornara-se forte como nunca fora. Incapaz de sentimentos vãos.
....Futuros amantes, quiçá. Se amarão sem saber. Com o amor que eu um dia. Deixei pra você .
Recordou antigos amores e até mesmo flash-back’s imaginários. Longas vertigens noturnas. Horas gastas pensando no que dizer, ensaiando. Dias de felicidade contida e mal humor inventado.
....Nenhum sentimento, decidiu. E virou a garrafa outra vez no copo.
....Alguns minutos se passaram, e o sentimento de nostalgia foi interrompido por outro som que se misturava ao de música que invadia a casa.
....O telefone tocou duas vezes até que ela decidisse atender...

- Alô ?
- Alô
- Quem é?
- Sou eu
- Você?
- Não acredito que já esqueceu a minha voz.
- Não, nunca.
- Tá tudo bem ?
- Tá sim...
- Que bom.
- Estava pensando em você agora.
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o Rio de Janeiro continua lindo ♪
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* itálico - Futuros amantes - chico buarque

segunda-feira, 12 de julho de 2010

• you are the only exception

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And I've always lived like this
Keeping a comfortable, distance…
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Tempo. Tempo. Tempo. Por trás daquele peito também batia um coração. E tanto tempo havia se passado desde que permitira sentir... Por trás da mascara o sorriso escondia a melancolia, fria. A saudade de ter a quem amar. Tinha medo de dia após dia, não ser mais o que era preciso ser. Perder-se. Estaria completamente cega sobre as coisas mundanas. E sobre as coisas de amor e de morte.Só nos filmes as pessoas são felizes no final. Na novela. Real life é outra história. História. HST.

Então numa manhã de inverno você aparece e me convida para sair. Quando o medo de estar para sempre só aumenta e sei que te seguiria assim, sem hesitar.
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… And up until now I swored to myself
That I'm content with loneliness,
'Cause none of it was ever worth the risk.
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But you are the only exception

sábado, 10 de julho de 2010

• amado '

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Como pode ser gostar de alguém
E esse tal alguém não ser seu ...
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Ainda que não houvesse sol o dia estava com o colorido diferente. Colorido? Preto e branco, preto e branco, branco preto. Seria noite? A janela no quarto não poderia dizer que horas eram. Escuro. Como o coração a pouco ficara. As coisas não se moviam, as horas menos. De qualquer forma sabia que não iria vê-lo. Aliás, isso por um mês, ou mais. O telefone não tocaria. Ela mal sabia o seu nome. As coisas de fora não tinham um movimento especial, mas as de dentro (re)surgiam. Droga. Mais uma vez. Já não tinha poder algum. Não poderia recuar nem desviar o caminho. Um palpitar mais acelerado do coração quando ele passa. elE vem, e ninguém mais belO vem em minha direção... Quem sabe amor, batera na porta novamente. Encanto. O mundo mais colorido com o sorriso dele. Daqueles sorrisos de querer se ver toda manhã, ou noite. Tinha uma vaga lembrança de tê-lo visto dois ou três anos atrás. Não sabia se era uma invenção da memória, ou uma projeção de alguém que de fato queria ter notado nesses dois ou três anos atrás. Num evento especial. Esboçou no ar uma tentaiva de aproximação. Impossível. Seria demais, até para ela. Perdera o jeito com conquistas ou talvez nunca o tivera.
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... Mas pode sim
Ser sim amado e tudo acontecer
Quero dançar com você
Dançar com você ♪
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( Não posso esperar.
Tenho a mesa posta, toalhas brancas, ombros moles
e uma alma que só saber viver presentes. )
caio fernando abreu.
itálico: pequena modificação em 'na estrada' de marisa monte

sexta-feira, 9 de julho de 2010

• Chão de giz

‘ Eu desço dessa solidão
Espalho coisas sobre
Um Chão de Giz ...
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   Pra cada um dos meus homens. Uma poesia, um verso, um desenho ou o melhor de mim.
   O teu amor é uma mentira. Que a minha vaidade quer. As horas mais bem gastas, ou as horas mais bem perdidas com você. O nosso amor a gente inventa. Pra se distrair. Os meus melhores beijos. A parte mais sincera que existe em mim. Sem nenhuma falsa tentativa de ser o que não sou. Sem vergonhas, talvez. Sem escrúpulos. Te ver não é mais tão bacana. Quanto a semana passada. O nosso amor a gente inventa. Pra se distrair.
   Inamovivel. Como se apaixonar pela primeira vez. De dar frio na barriga e sei lá o que. Querer ver, estar perto. Acompanhar. I made wine from the lilac tree. Put my heart in its recipe. Pensar mais uma vez que estar junto pra sempre pode ser bom. Que não se precisa pensar em mais ninguém. Put my heart in its recipe. It makes me see what I want to see. Inalcançável.
   Os meus olhos vidram ao te ver. São dois fãs, um par. Platônico como tantos outros foram. Sem tentativas de aproximação ou falsas promessas. Sem noites de insônia. Sem querer a eternidade, sem querer que alguém saiba, apenas ter. Contradição. E eu te chamo, eu te peço: Vem! Diga que você me quer. Porque eu te quero também!
   Desculpe. Estou um pouco atrasado. Mas espero que ainda dê tempo. De dizer que andei. Errado e eu entendo. Pensar que acabou da forma mais medíocre possível. Fica só o gosto amargo daquilo que não tem nome. O ódio, o ressentimento. Da vida que foi negada, do perdão que foi negado, e das horas a sós que foram substituídas por bebedeiras com os amigos. Por onde andei? Enquanto você me procurava. E o que eu te dei? Foi muito pouco ou quase nada.
   Pra cada um dos meus homens. Uma poesia, um verso, um desenho ou o melhor de mim. Uma mulher, para cada um dos meus homens.
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... Quanto ao pano dos confetes
Já passou meu carnaval
E isso explica porque o sexo
É assunto popular ♪
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( Bueno, os dados estão lançados,
e agora só me resta lavar as mãos sujas
do sangue das canções )
caio fernando abreu.
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O nosso amor a gente inventa ♪ Cazuza
Lilac Wine ♪ Jeff Buckley
Luz dos Olhos ♪ Cássia Eller
Por onde Andei ♪ Nando Reis
Ao som de Chão de giz ♪ na voz de Oswaldo Montenegro,

sexta-feira, 4 de junho de 2010

- o mundo é um moinho

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Ainda é cedo amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora da partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar

Ouça-me bem amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões à pó. ♪
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Não queria de forma alguma pensar em tudo isso de novo, fazia mal. Reviver momentos na memória. Inútil qualquer tentativa de aproximação. Partiu irremediavelmente. E ainda que tenha aceito isso como nova forma de vida, queria às vezes pensar no que poderia acontecer se não houvesse acontecido o toque dos corpos, das almas. Por um minuto. Ainda que falsamente. Utópico demais, pensar no que poderia ter sido e não foi. Às vezes a espera de uma carta ou um telegrama. Passa rápido. Passa rápido porque agora outro ser se misturava ao dela. Carne, corpo, alma, pensamento. Tudo. Idiota quem disse que não se esquece uma pessoa com outra. Esquece sim, esquece e passa. Fica só o gosto amargo daquilo que não tem nome. O ódio, o ressentimento. Da vida que foi negada, do perdão que foi negado, e das horas a sós que foram substituídas por bebedeiras com os amigos. Fácil era dizer agora que ela não o conquistara. Muito fácil, limpar o porão sujo agora que todos os móveis e entulhos foram retirados. Depois que a grande decisão foi tomada pelo dono da relação. Grande decisão? É, você pode definir também como seqüência de acontecimentos estranhos e desmedidos. Mas, será por quê? Não importava agora né, agora que...


Que imensa miséria o grande amor - depois do não, depois do fim - reduzir-se a duas ou três frases frias ou sarcásticas. Num bar qualquer, numa esquina da vida"
caio fernando abreu

quinta-feira, 3 de junho de 2010

• @beatlesfrases: The way you deceive me, I just don't understand

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   Há muitas outras coisas que se poderia dizer sobre esse homem nesta noite turva, em que sento-me para escrever ao lado de uma garrafa de alguma coisa com teor alcoólico e um cinzeiro em que deposito as cinzas do meu Lucky Strike, o maço quase no fim.
   Que ele era legal, que era elegante e charmoso seria o mais clichê a que se poderia chegar, depois de tanto tempo. Que entendia sobre todos os assuntos e que era a pessoa mais especial these whole world... Que teria a mulher que quisesse quando quisesse, retórico demais.
   Uma coisa que não consegui dar nome, e que por mais que tente não compreendo muito bem, e entendo. Entendo por ora, antes de me ater aos detalhes e chegar a (in)conclusão de que não faz sentido nenhum. E pensei, durante certo tempo, que o que mais se poderia tirar dessa história toda - talvez inventada, talvez fantasiada para tornar-se nos mínimos detalhes real – era o significado. Hoje pressinto que é o que mais falta. Em forma de interrogações, tento decifrar esse nó que me atrela a tudo isso. Acendo mais um cigarro.
   Gastei quase todas as minhas fichas tentando apostar em uma teoria que pudesse chegar o mais perto possível do real. Percebo agora que não existe real. Tudo é irreal e atrelado ao fato de tentar inutilmente viver. Viver e ser lembrado, viver e ser esquecido. Amar até a última gota do ser. Consumir-se um no outro, noutro. Várias e várias vezes. Na esperança quem sabe de achar algo que faça parar, ficar para sempre. Sem mentiras, sem vergonhas, sem histórias mal contadas e passados que teimam em aparecer no presente. Utopia.
   Outros são os caminhos e sabe-se que na esquina de cada um deles há outras e outras mulheres. Com histórias que talvez pudessem fazer diferença na vida de alguém. Mas elas são de ninguém. E talvez ele seja assim.
   Acendo outro e outro cigarro. A vida é o que é, e as pessoas são o que são, mesmo pra quem vê de longe. People don't change !
   Há muitas outras coisas que se poderia dizer sobre esse homem nesta noite turva. Que ele era quase perfeito, e que só existia um defeito, mas era esse defeito que fazia com que se desacreditasse de todas as qualidades até então existentes. Poderia terminar o texto com uma música, mais ou menos assim: Te pego na escola e encho a tua bola com todo o meu amor. Te levo pra festa e testo o teu sexo com ar de professor. Faço promessas malucas tão curtas quanto um sonho bom. Se eu te escondo a verdade, baby, é pra te proteger da solidão. ♪ Mas agora e para sempre, o show não era interessante e ela não era o seu amor. Então termina-se assim, sem solos de violão ou piano. Talvez, um tango argentino, pena eu não conhecer nenhum. Poderia procurar algo aceitável aqui; mas acabaram os cigarros e o álcool está quase no fim.
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“São aqueles que vêm do nada
e partem para lugar nenhum.
Alguém que aparece de repente,
que ninguém sabe de onde veio nem para onde vai
A man out of nowhere.”


(Nelson Brissac Peixoto: Cenários em Ruínas)
citado no conto VI : O Rapaz mais triste do mundo
de Os Dragões não conhecem o Paraíso - Caio Fernando Abreu.
* negrito - O rapaz mais triste do mundo ...
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