Sempre que escrevo um poema, um poeta de verdade se remexe no túmulo, por dor ou por pena

terça-feira, 23 de agosto de 2011

e se

Que a morte é a ausência da vida todo mundo sabe. E as horas giram devagar ou às vezes depressa demais. E o tempo engole tudo (ou quase). Passa o tempo mas não passa a saudade daqueles que um dia estiveram conosco. E as memórias podem ser todas esquecidas, pois, no exato instante em que aconteceram talvez não fossem tão importantes. E foram, e são, e em pouco tempo tudo se findará. As luzes ao fundo se apagam, os relógios de parede ou de pulso, o big ben, todos param. Um dia. E nada mais se tem além do vazio, que nada mais é que a ausência, ausência de quê? Quando o sol acabar, não chore por mim, não chore por mim que não quero ver você triste nem seus olhos cheios d’água. Deixa que com o tempo as coisas se acertam e o que não tem remédio remediado está. Então venha para perto de mim enquanto há tempo. Não deixe o sol se findar, e o tempo correr. E tudo acabar afinal. Que a morte é a ausência da vida todo mundo sabe. Mas e se eu morrer?

sábado, 30 de julho de 2011

Folhetim

ao som e letra de Folhetim - do Chico



Se acaso me quiseres, sou dessas mulheres que só dizem "sim!". Por um dia e uma ida ao cinema, todo o amor que houver nessa vida. E pela volta na praça, as saídas de mãos dadas, todo o amor que houver nessa vida. Todos os convites aceitos, e fica certo. Por um coisa à toa, uma noitada boa, um cinema um Botequim. Os presentes infantis, os presentes de verdade, a loja de cd’s, as camisetas de super-herói, as aulas de física, as figurinhas do Batman. E se tiveres renda aceito uma prenda, qualquer coisas assim, como uma pedra falsa, um sonho de valsa ou um corte de cetim. A pulseira azul em meio a propostas de visita a Angra dos Reis agora se encontrava-se no fundo da caixa de bugigangas. Poderia ter jogado fora. Eu te farei as vontades, direi meias verdades sempre à meia luz. As conversas sobre astronomia, e o tempo perdido que era dedicado a falar sobre os outros. As promessas de um futuro. E te farei vaidoso supor que é o maior e que me possuis. Os melhores beijos e as melhores noites de amor, todo amor que houver nessa vida. Mas na manhã seguinte não conta até vinte: Te afasta de mim, pois já não vales nada. E me fale e me peça amores, por um instante, não mais. És pagina virada, descartada do meu folhetim.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

só não se perca ao entrar...

Procuraria por uma trilha sonora, pois como bem se sabe todas as cenas da vida necessitam de uma. E não encontraria porque talvez dessa vez não se tratasse de uma cena qualquer. Então tentaria se lembrar de gestos e atitudes, qualquer vestígio ou sinal que indicasse que algo poderia dar certo. E não lembraria porque estava distraída demais para notar qualquer coisa, e descobrira a pouco que não tinha a memória muito boa. E nessa linha tênue, que separa versos de um lado e doutro, que a pouco lembrara existir, talvez pudesse compor poemas inteiros. Mas agora não saberia dizer se o convite quase feito realmente se tratava de um convite, ou seria apenas uma dessas propostas que se fazem descompromissadamente a esmo. E tentaria inutilmente rememorar onde haveria deixado aquela resposta que deveria ter sido dada no momento certo, ou se deveria acreditar em acaso, ou escolhas. E como não tinha a memória muito boa e estava distraída demais para perceber qualquer sinal, ainda que dos astros, a busca seria ineficaz, e só faria lembrar a sua incapacidade de mentir, ainda que soubesse esconder sentimentos muito bem. E não poderia dizer ao certo se era o caso de pensar nesses imprevistos, que de uma forma ou de outra, acusam que nem sempre se tem o controle do destino. E então agora acreditaria ela em destino, como tantas outras vezes acreditara, até o momento certo em que a linha se rompia e a vida era novamente entregue aos deuses ou ...
E colocaria todos os versos e todos os textos e todas as propostas no futuro do pretérito porque lá era certo que não se apagaria a qualquer brisa do tempo. E então tomaria um café aqui ou em Paris, e riria de todas as piadas sem graça e dos comentários sem sentido. E se isso não era amor não poderia saber o que é, e não se atreveria a descobrir sob o risco de se extinguir. E estando longe mandaria postais e fotos, como se do outro lado do mundo o amor fosse mais bonito. E o amaria com todo o sentido que a palavra carrega. Por um instante, ou pela eternidade.



E ao senhor de iludir manda avisar
Que este daqui tem muito mais amor pra dar ♪

segunda-feira, 4 de julho de 2011

não sei pra quê fui cantar pra você

Poderia começar com “eu estava em paz quando você chegou”, mas sabia que isso sempre e para sempre se repetiria. E voltaria de férias, e talvez não encontrasse a casa como deixou, nem o lugar. Da janela lateral do quarto de dormir as horas não passariam como de costume, não poderia voltar atrás. Melhor encerrar qualquer possibilidade de sentimento que poderia vir a ser um sentimento outro, fora do lugar-comum, longe de qualquer razão de ser. Oh meu Deus, porque mesmo isso acontece, por quê? Poderia falar da primeira vez que viu, ou que quase não viu, se fosse para ser mais exata. Aparentemente satisfeita prometeu a si que qualquer coisa seria suficiente, esqueceu que nunca é. Nem começo de tarde, nem o dia todo seria bastante para. Não compreendia, mesmo inerte não poderia deixar de pensar. Tinha um livro, alguns textos e páginas de revista. Quando ao lado ainda é muito mais longe que qualquer lugar, ela continuava a querer um sol acima do sol. Não haveria nenhum jardim, nem flores, nem corações partidos, nem reparos. Sairia caminhando devagar, olhando a cidade, as luzes ao longe, uma canção, qualquer som que saísse de um piano e indicasse uma música que sequer saberia definir o ritmo. Pouca gente poderia entender, afinal não há tempo para isso. Daqui a pouco começaria a chover, e no apartamento vazio, aos solitários pouco resta além da solidão. Abriu uma garrafa de conhaque e voltou a fumar.



“ Não sei pra quê
Fui cantar pra você
Essa hora “

sábado, 12 de fevereiro de 2011

• Itinerário

Pudesse escolher entre ser feliz e ser feliz. Pudesse quem sabe dizer o que é este desejo súbito de viver. Atingiria o controle absoluto e não mais estaria sujeito as peripécias do destino. Desde não sei quando sentia-se assim, sem aborrecimentos. Após descobertas que um dia julgaria catastróficas decidiu que escreveria um texto. Três linhas, Del. Não tinha tempo para aborrecimentos. Não tinha dó, piedade, só esse desejo súbito de viver. E nesse desejo súbito não cabia olhar o passado, não cabia nem mesmo perder tempo com presentes certos demais. Queria o incerto, o não te ligo amanhã, não espere. O colocar de caminhos traçados incomodava. Da carreira poderia saber, de amores não mais. Nada de te pego na escola e encho a tua bola com todo meu amor, nem daqueles de fugir pra outro lugar baby. Queria os clandestinos. Os incertos. Os com vírgulas e pontos onde bem entendesse. Sim, podemos ser somente amigos e não me ligue, não me procure, não me toque. Por enquanto deixa eu brincar de ser feliz, pintar o meu nariz e todo o resto.

Amar a nossa falta mesmo de amar,
e na secura nossa amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
( Carlos Drummond de Andrade )

domingo, 16 de janeiro de 2011

• ando meio desligado

O amor é engraçado. Rabiscou isso em um dos papéis que se encontravam perto do bloco de anotações. Fazia 5 minutos que estava ali parada, na inútil espera de palavras bem colocadas para um texto. E pensou nos amores e desamores da vida e em todas as memórias – que agora sim não passavam de memórias – inúteis, que atormentaram por certo tempo os seus pensamentos. A caneta na mão, os pensamentos soltos. E na rádio tocava, morro de saudade a culpa é sua, todo atalho finda em seu sorriso nu. Não quero te prender mas não posso te perder, ela me deixou desiludido eu já não sei se eu vou se eu fico. Esse é um dilema que nem o cinema pode resolver, uoou ie iê. E o papel, e a caneta, e os pensamentos soltos. Amores vêm e vão, escreveu. Como num filme imagens passaram em sua cabeça, e pensou nos desamores que a vida lhe reservou. Em como num dia dá-se a vida por alguém e noutro pede a todos os santos para esquecê-lo. Nas inúmeras promessas não cumpridas. Deveriam extinguir dos rituais de casamento todas aquelas promessas, e deveria ser possível casar na igreja novamente. Ficava sempre com isso na cabeça, Deus só abençoa uma vez. Mas se abençoa não deveria acabar. O que Deus uniu o homem não separa. Separa sim, ou então Deus quase nunca uniu alguém. Bem disse quem escreveu que seja infinito enquanto dure. É, só enquanto durar. Bem disse também quem escreveu que é melhor sofrer junto que viver feliz sozinho. Era isso ou o contrário. Nunca concordou totalmente com a afirmativa. Mas você pode ter certeza de que seu telefone irá tocar em sua nova casa que abriga agora a trilha incluída nessa minha conversão. E mesmo talvez não houvesse conversão. E em segundo lugar mesmo talvez o telefone não fosse tocar. E nem houvesse segundo sol. Foi, pois, assim que descobriu que o amor sempre reaparece. Surpreendeu-se refletindo que teria que conviver com isso continuamente. Com brusca rigidez tentou parar de pensar e embolou o papel que a pouco rabiscara algumas poucas palavras. Mas a caneta continuou na mão e os pensamentos continuaram soltos. Para essa doença não há cura, afinal .


♪ Ando meio desligado
Eu nem sinto
Meus pés no chão
Olho, e não vejo nada

Eu só quero
Que você me queira...

domingo, 12 de dezembro de 2010

• um ponto oito

Durante horas inteiras dividia-se em repetidos gestos de mudanças de livros. Ligou a TV, talvez em meio a diversos desastres arranjasse algo que realmente valesse a pena assistir. Controle remoto, remotocontrole. Na mudança quase automática de canais percebeu que os noticiários se repetiam. Anunciaram que o mundo ia se acabar. Como perder tanto tempo lendo diversos livros que não teriam serventia prática, já que foi noticiado que o mundo iria se acabar? Na confusão que se seguiu a notícia, pode ouvir alguns gritos, provavelmente de pessoas agora desesperadas, como se viver não fosse desesperador o bastante. Morrer, fosse talvez mais fácil - pensou. Mas disso ninguém queria saber. Nenhuma pessoa se espantava com as mortes noticiadas, com os diversos incêndios, milhares de animais mortos, milhares de corpos. Na casa do vizinho, do outro lado da rua, não importa o que acontece. Mas o mundo ia acabar, e o mundo também era ele, e ela. O que fazer então ? Quanto tempo as pessoas teriam? Os mais religiosos sem dúvida esperavam pela volta de Cristo, ou sabe-se lá de quem, o narrador aqui não entende de religiões. O modo e a hora, eram um mistério, ou talvez tivessem dito ao final da reportagem, que passou na televisão que ela desligou logo após saber o mínimo da notícia. Ver aparentemente tão claro o destino não era de todo ruim, ainda que as diversas linhas telefônicas estivessem congestionadas por ligações de pessoas pedindo perdão até para o porteiro do prédio, por aquele dia que nem mesmo o porteiro se lembraria. Ela não, não queria saber de perdão, nem de culpa. Sabia que se ligasse o som não encontraria nenhuma rádio com música decente, talvez não encontra-se sequer uma rádio. Lembrou-se de seus últimos meses. Os amigos que não mais ligavam – não que fosse sua culpa - as horas jogadas fora que não mais existiam. Como estaria seus melhores amigos agora ? Melhores ? Lembrou-se de algumas discussões, e daqueles caminhos que não mais se cruzaram pela falta de tempo, e de coisas em comum. E de todo o seu coração que não estava morto pela falta de amor, mas pela falta de alguém que realmente quisesse compartilhar, e sendo assim já não compensava mais viver. Pela primeira vez sentiu medo.


Olhei a cidade
Olhei pro meu carro
Voltei a correr
Pensei em fugir
Quis não mais viver ♪


quarta-feira, 27 de outubro de 2010

• derretendo satélites



Era a primeira vez que sentia tal coisa, ou talvez não fosse, acontece que seguindo a forma de progresso evolucionista, não sei se cabe aqui, mas seguindo essa norma evolucionista, não conseguia acumular memórias e sensações, qualquer nova memória e nova sensação era realmente nova, e realmente não sei se evolucionista cabe aqui. Acontece que de súbito esse pensamento intempestivo, perceba como se repetem palavras nessas frases, acontece que essa intempestividade, pois lembrara-se de ter ouvido essa palavra de alguém e decidira que deveria utilizá-la, mesmo que assim repetidamente, enfim, esse pensamento súbito inopinado atormentara repetidamente. Dito, feito e acontecido novamente lá estava o pensamento de novo, reverberadamente, e também não sabia se a palavra reverberadamente sequer existia, o fato é que o significado de reverberado era brilhar em virtude da reflexão de luz, e mesmo que reverberadamente não existisse tinha-se licença poética e tenho dito, mesmo que não estivesse escrevendo uma poesia e nem apresentasse o dom para tal, a vida em si já era poética demais, e que reverberadamente tão bem reproduziria o refletir-se de luz e calor que acontecia no momento. Lembra-se de ter anotado algo como “o cinema é um falsário” antes que seu raciocínio lógico se fizesse prisioneiro do misto de sentimentos indefinidos. E não poderia dizer de que forma acontecera toda essa modificação que de súbito intrometera-se em seus pensamentos até então serenos, entretanto, talvez serenos sejam os pensamentos que agora perpassam os sentimentos, e sei que isso parece não fazer sentido algum, todavia faz. Ocorre que uma oportunidade dessas em que se perde a razão e o senso não se deve deixar passar, ainda mais quando de forma tão inequívocada, e sem precedentes surgem sentimentos assim. Não demorou muito, foi apenas uma questão de segundos, ou mesmo milésimos de, que fez com que um misto de aprazer e sentimentos não identificáveis tomassem todo o seu corpo, sei que aqui a palavra corpo realmente não cabe, já que se refere a toda estrutura física, nesse sentido deveria referir-se somente a coração, pois corpo seria bem menos específico. Sabe-se todavia que esses sentimentos não identificáveis não poderiam partir apenas do coração, sentidos assim se refeririam aos órgãos como visão, audição, olfato, gosto e tato, só que de mesma forma sabe-se que até então somente a visão e a audição foram utilizadas. Mas fica melhor assim, que esses sentimentos tenham vindo do coração e dos sentidos, mais poético. E vindo esses sentimentos do coração e dos sentidos e sendo a situação tão inusitada, como disse, não poderia deixar passar. Decidiu que na próxima conferencia sentar-se-ia ao lado dela, pois queria utilizar os outros órgãos dos sentidos, e isso não poderia deixar passar. Dito e feito, sentou-se ao seu lado, no palco as pessoas mais pareciam abrir a boca sem nada dizerem, escutou duas ou três palavras, queria aproveitar o momento, e essas duas ou três palavras foram suficientes para que puxasse assunto, assim inequívocadamente. Era uma pergunta daquelas sem respostas, que escreveu em um papel e mostrou, para que ao ler, o mínimo que poderia fazer era sorrir, sorriu e disse uma palavra, agora sim quatro sentidos completos. Bem sabe-se que para o último sentido da lista ter tomado posse precisaria mais do que de coragem para sentar-se ao seu lado, e talvez algumas doses de wisky, que como bem se sabe não poderia conseguir no momento. Então termina-se a estória assim, sabe dela apenas o que achou nesses dicionários de conglomerados de redes em escala mundial que conecta milhares de pessoas. Mas o fato de ter usado quatro dos cinco sentidos deixou esse êxtase de sentimentos não identificáveis que perpassam os sentidos, desprendem-se de coisas materiais e ficam vagando por si só, reverberando a cada momento em que a imaginava no palco, ou passando entre uma poltrona e outra.


.


perdendo senso
derretendo satélites ♪
* desenho meu, esqueci de assinar, que dizer ¬¬

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

• morangos mofados


( Meditarias: as pessoas falam coisas,
e por trás do que falam há o que sentem,
e por trás do que sentem há o que são e nem sempre se mostra.
Há os níveis não formulados,
camadas imperceptíveis, fantasias que nem sempre controlamos,
expectativas que quase nunca se cumprem e sobretudo, como dizias, emoções.
Que nem se mostram.
Por tudo isso, infelizmente, repetirás, insistirás completamente desesperado,
e teu único apoio será a mão estendida que, passo a passo, raciocinas com penosa lucidez,
através de cada palavra estarás quem sabe afastando para sempre.
Mas já não sou capaz de me calar, talvez dirás então, descontrolado e um pouco mais dramático,
porque meu silêncio já não é uma omissão, mas uma mentira.
- natureza viva, em morangos mofados, de caio fernando abreu )



Sim, é bem assim mesmo. Eu não tenho um coração, chame do que quiser, pueril, vulgar, pouco me importa. Eu não vou ficar aqui babando ovo pra ninguém, porque isso não me ajuda em nada, se era pra ser e não foi, não me venha com meias palavras. É hipocrisia da minha parte e eu não quero ser assim. Pra mim todos vocês são iguais, e por mim colocaria todos em uma caixa. O primeiro que pedisse água receberia veneno, depois disso nenhum se arriscaria mais a pedir, mas já depois de algum tempo estariam cansados e doloridos então pediriam água novamente, na esperança que esta também viesse com veneno, mas não viria; e morreriam assim lentamente, um carne do outro. Claro que estou dizendo em sentido metafórico, não, talvez não esteja. Pouco importa, já te disse. Vocês são todos iguais. Lamento pelo sexo, e cada vez mais tenho pensado nisso, foram muitas oportunidades não aproveitadas, que só depois eu percebi. Fico imaginando você nu, o nu que eu gostava de ver, aquele lance de corpo no corpo, queria isso de novo, pra saber que não foi pelo sexo ou pela falta de. Fizemos sexo alguma vez? Isso tem me pegado, divagaria por horas sobre isso. E penso nessas horas, que talvez você não seja como eles, e me lembro de um texto do Caio “E não dou um tostão por eles todos. A você eu amo. Raramente me engano.” Mas se é amor ou não eu não sei, um dia foi, foi porque o amor é cego e eu sei que o meu era. Logo agora, vejo tantos defeitos, prova que era amor e prova que não é mais. Isso já foi há quase sete anos, aliás completa agora em novembro, sei porque naquele mesmo dia em que você me fez de boba, ele estava lá, e me tirou do poço em que eu iria me atirar. Nunca me esquecerei disso, e talvez se pudesse voltar no tempo teria ficado com ele e com você, espera, eu sei que não faria isso, e de qualquer modo não teria dado certo. As coisas são como são. E fico pensando nisso de você ser diferentes deles todos, mas não dá pra ser, quando se vive junto é. Não tem porque ficar pensando nisso tudo, já passou. É como eu te disse, não vou ficar com meias palavras. Isso me lembra outra frase do Caio “Fica combinado assim: se não te atrapalho, você me dá licença de ser assim do jeito que eu sou?” . E vai ver eu sou assim mesmo. Deixa estar, porque o monstro que habita em mim não sabe perdoar.


Com afeto e sem ironias,
Pelo tempo que passamos juntos
o meu carinho de sempre.

Jeannie

domingo, 3 de outubro de 2010

• partido alto

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...Fez uma coisa que em outros tempos não faria. Planejava um streape tease, uma fantasia, fosse o que fosse, fosse onde fosse. Feriado, cidade deserta e todas essas coisas. Passou maquiagem sombra azul, lápis preto, batom e esmalte vermelho. Olhos tão escuros e corpo de mulher que os íntimos mal a reconheceriam. Falava como as atrizes de filme, as espiãs, meretrizes. Parecia uma mulher daquelas revistas femininas ou de outdoor’s de roupas íntimas. Tudo ensaiado, milimetricamente planejado. Perdia-se na sensação de ser lascivamente desejada. Swan diving off of the deep end of my tragic cigarette. E bem, pensava que isso necessitaria de uma introdução apropriada. Preliminares que chamam? Pouco importa. Como disse, tudo planejado.
....Mãos deslizando pelo vestido, coração acelerado e luzes turvas. Sexo, traição, Sexo – assim com letras maiúsculas, em neon gritante – SEXO. Um cigarro na bolsa para o caso de perder a linha do pensamento. Gemidos que se tornavam gritos cada vez mais altos. Invades, tomas, pedes e implora. That God forgives my sins. E se o amor não era o suficiente para botar os inimigos para dormir, outra coisa o seria. Oh! And isn't this exactly where you'd like me. I'm exactly where you'd like me, you know ; Praing for love in a lap dance and paying in naivety! Derramas.
....Tudo planejado, só faltava ele. 20:00, banho, perfume. 20:30, um chocolate para não desmaiar de fome – mulheres costumam fazer isso – para variar. 21:00 ele já deveria ter aparecido, pouco importa. Maquiagem, cabelo, perfume. 21:45, ele deveria ter aparecido, sempre aparece. 22:30, perfume. 22:31 ligou o rádio. 22:32, merda de rádio que não passa nada que presta ouvir aos finais de semana. 22:33 muda a estação. 22:40 vai olhar o tempo, talvez devesse trocar de roupa. 23:00, perfume. Nesse momento estenderia o prazo para às 24h. Não, ele não viria.
....Pegou a bolsa, as chaves do carro e foi para o bar. No caminho pensava em uma forma de ... Mas não, ela havia prometido que nem se o Marlon Brando ressuscitasse dos mortos, aparecesse de cueca, e propusesse um Ultimo Tango em Paris ela arrastaria o cu por homem de novo.
..



Diz que deu
Diz que dá
Diz que Deus dará